Procrastinação:
O mal que
pode acabar com sua carreira e suas finanças.
Você
costuma enrolar muito para fazer as coisas? Sabe que precisa ser mais
produtivo, mas não consegue parar de procrastinar?
Outro
dia escrevi um artigo
aqui no Dinheirama com algumas dicas para quem quer conseguir mais
produtividade no dia a dia, mas entendo que há pessoas que simplesmente não
conseguem aumentar o ritmo ou aproveitar melhor o tempo. Por que será?
Saiba
que, segundo a Neurociência, a procrastinação é uma resposta
inconsciente aos afazeres.
“Não
é uma preferência, embora muitos acreditem nisso”, afirma a Doutora em
Neurociência Thaís Gameiro, sócia-fundadora da Nêmesis,
empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área
de Neurociência Organizacional.
Ela
afirma que quatro fatores influenciam muito na capacidade de ser produtivo. São
eles: nível de descanso, estresse, capacidade de interagir com a tarefa e
motivação.
Convidei
a Thaís para explicar um pouco melhor o que acontece para os leitores do
Dinheirama, assim a gente também entende o outro lado da moeda, certo?
Thaís, quais as características que mostram que
alguém é procrastinador?
Thaís
Gameiro:
Normalmente
são pessoas que deixam para fazer tudo na última hora. Em geral, não lidam de
maneira eficiente com os prazos e gerenciamento do tempo e acabam ficando
sobrecarregadas, pois deixam para concluir suas atividades ou tarefas na véspera
ou logo antes do prazo acabar.
É
aquela pessoa que vai “empurrando as coisas com a barriga” até não ser mais
possível postergar.
Como essas características podem atrapalhar com
relação ao trabalho ou vida financeira por exemplo?
T.G.:
Ao
se tornar um hábito, a procrastinação traz uma dose a mais de estresse para o
dia a dia das pessoas. Isso por si só já seria um fator que atrapalha nossa
produtividade e saúde.
Mas,
além disso, a procrastinação pode acabar prejudicando a vida profissional, pois
nos deixa mais suscetível a perder um prazo importante, ter que concluir uma
tarefa correndo, virar uma noite para fechar algo que exige atenção e cometer
erros (graves, inclusive).
Em
relação à vida financeira, muitas vezes o procrastinador não consegue pagar
suas contas em dia (acaba gastando mais com juros e multas), nunca inicia
aquele plano de previdência ou poupança, tem dificuldades de planejar sua vida
futura e vai deixando decisões importantes para depois.
Nesse
caso, o depois não tem um deadline específico e acaba nunca sendo concluído.
A Ciência diz que a procrastinação é uma resposta
inconsciente aos afazeres, certo? Pode explicar um pouco melhor?
T.G.:
Na
verdade, grande parte de nossas atitudes e comportamentos são fortemente
influenciados por aspectos inconscientes.
Temos
a falsa sensação de que estamos 100% no controle, mas o que os estudos mostram
é que diversos fatores externos e internos influenciam de forma inconsciente
nossa tomada de decisão.
A
procrastinação é resultado de uma desconexão entre aquilo que pretendemos
realizar (nossas intenções) e aquilo que efetivamente realizamos.
Em
geral, procrastinamos porque nosso cérebro tem dificuldade de avaliar as
consequências de longo prazo e é mais sensível aos ganhos ou desfechos que
ocorrem de forma imediata.
Além
disso, estudos recentes sugerem um possível papel da Amígdala, região do
cérebro com participação fundamental no processamento das emoções. Essa região
mostrou-se maior naqueles participantes considerados procrastinadores.
Nesses
mesmos indivíduos, também foi observada uma menor conexão entre a Amígdala e a
parte dorsal do córtex cingulado anterior (dACC -região responsável pela
seleção e execução dos comportamentos adequados ao contexto).
Tanto
a Amígdala quanto o dACC são regiões que estão associadas à nossa capacidade de
autocontrole, de maneira que conexões mais fracas entre essas regiões podem
diminuir nossa habilidade de filtrar emoções e estímulos distratores (internos
ou externos), resultando em uma baixa eficiência na regulação do nosso
comportamento.
É
importante ressaltar que nosso cérebro tem uma grande capacidade de se
modificar, criar novas conexões, o que chamamos de neuroplasticidade, sendo
possível aprender novos comportamentos e hábitos, de maneira que mesmo aqueles
indivíduos mais procrastinadores podem desenvolver novas habilidades que
favoreçam sua produtividade.
Quais fatores influenciam na nossa capacidade de
sermos produtivo e como lidar com eles?
T.G.:
A
produtividade é reflexo de muitos fatores que, quando associados, favorecem
nossa capacidade e desempenho. O primeiro passo é estar descansado, respeitando
os limites biológicos que temos.
Dormir
de maneira adequada (6h-8h por noite), ter uma alimentação saudável e
equilibrada, praticar atividade física regularmente. Esses três fatores, embora
não sejam novidade, são fundamentais para o bom funcionamento do cérebro e,
consequentemente, maior produtividade.
Além
disso, organizar de forma clara as prioridades do dia e trabalhar em uma tarefa
de cada vez (nosso cérebro só consegue prestar atenção em uma única tarefa por
vez), evitando assim erros e retrabalhos que ocorrem devido a simples falta de
atenção.
Nossa
tendência com o volume de atividades e entregas é tentar fazer tudo ao mesmo
tempo, com a falsa expectativa de que dessa forma será mais produtivo.
No
entanto, o que as pesquisas mostram é que perdemos cerca de 40% de nossa
produtividade ao tentar ser multitasking. Dessa forma, estabelecer uma lista de
atividades e estipular tempo para realizar cada uma delas individualmente será
mais eficiente.
Outra
dica importante é incluir nesta lista os momentos de intervalo, ainda que
curtos, mas necessários para “recarregar” o cérebro, permitindo uma maior
capacidade de foco e atenção.
Com relação a fazer diversas coisas ao mesmo tempo,
é verdade que há diferenças entre homens e mulheres?
T.G.:
Tanto
os homens quanto as mulheres possuem processos atencionais semelhantes e, nesse
sentido, só conseguimos prestar atenção em uma coisa de cada vez.
A
atenção é nossa capacidade de filtrar estímulos e aqueles elementos filtrados
são processados com maior riqueza de detalhes, ou seja, são priorizados
enquanto “ignoramos” os demais.
Apesar
de na prática parecer que estamos realizando diferentes tarefas em paralelo, o
que ocorre na verdade é um fenômeno conhecido como switch atencional.
Trocamos
o foco da nossa atenção de uma atividade para a outra, de forma bastante
rápida, e por isso temos a falsa sensação de que estamos fazendo duas coisas ou
mais, simultaneamente.
As
mulheres possuem em média uma habilidade maior de realizar essa troca de foco,
ou switch atencional, quando comparada aos homens. Mas ainda assim, o cérebro
de ambos só consegue dar conta de uma tarefa por vez.
Para ganharmos concentração, é melhor trabalhar de
que forma?
T.G.:
Procurar
organizar suas atividades e estipular um tempo para cada uma, evitar distrações
e interrupções (p.e. desligar notificações de apps), estabelecer uma frequência
de intervalos curtos (5 a 10 min) a cada 2h pelo menos.
O
autoconhecimento também pode ser uma vantagem para a produtividade, na medida
em que saber quais são os momentos (e condições) ideais de trabalho para si
mesmo é bastante útil na hora de administrar sua energia.
É
muito importante identificar esses padrões, porque somos muito mais produtivos
quando escolhemos fazer as tarefas mais desafiadoras nesses momentos. Do
contrário, realizar a tarefa mais complexa no momento em que se está mais
cansado ou menos disposto, aumenta as chances de errar e procrastinar.
Pode oferecer algumas sugestões para quem quer
parar de procrastinar e trabalhar melhor o cérebro para ganhar
produtividade?
T.G.:
A
primeira coisa é identificar os gatilhos que te levam a procrastinar e, se
possível, eliminá-los. Por exemplo, se a natureza da tarefa é um gatilho, ou
seja, sempre que precisa realizar coisas que você não gosta acaba deixando para
a última hora, procure criar estratégias que te ajudem a priorizar essa
atividade.
Por
exemplo, você pode coloca-las junto com outras atividades mais agradáveis ou
estabelecer um horário específico do dia para realiza-las, ao invés de deixar
para fazer “quando sobrar tempo”.
Outra
dica importante é tentar quebrar uma atividade muito grande ou cuja entrega só
é necessária após um prazo muito longo, em pequenas entregas. Crie metas e
estabeleça uma rotina de trabalho que permita ir “construindo” o trabalho pouco
a pouco.
Assim
você não precisa ficar 12h trabalhando na mesma coisa, mas divide o esforço ao
longo de tempo e ao atingir os objetivos menores tem a sensação de progresso.
Essa
estratégia ajuda o cérebro a aproximar os ganhos da tarefa e funciona como uma
recompensa que motiva a continuar o processo.
Foto:© Fornecido
por NP Internet Ltda - ME
Conteúdo: Dinheirama.
Portal MSN.
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