O que há de comum nos
protestos, ao redor do mundo.
Eles envolvem um leque muito amplo e diverso de
assuntos, que têm a ver com a economia, a distribuição de renda, uma
institucionalidade pública questionada e uma ampla percepção de exclusão
social…
Um
protesto em Santiago do Chile.ALBERTO
VALDÉS (EFE)
Em não menos de 20 países, a principal notícia das
últimas semanas são as manifestações sociais.
Há motivos variados, situações nacionais diferentes
e uma diversidade de agendas nos protestos, mas a explosão globalizada que se
vê é imparável. Em todos os continentes.
Numa edição recente, a revista The Economist enumera
algumas das mais notáveis em andamento: Argélia, Bolívia,
Cazaquistão, Catalunha, Chile, Equador, França, Guiné, Haiti, Honduras, Hong Kong,
Iraque, Líbano, Paquistão e Reino Unido.
Mas a lista vai além. Inclui países como o Irã, com
semanas de protestos sociais por causa do preço dos combustíveis, e outros que,
como a Colômbia,
explodiram recentemente.
As principais características comuns a esse
processo globalizado podem a ajudar a entendê-lo e a imaginar suas projeções,
possíveis resultados e riscos de saídas autoritárias ou populistas.
Deixo de lado as teorias da conspiração que
pretendem explicar tudo; a mão invisível de Maduro ou de quem quer que seja,
que não pode ser fundamentada com provas.
Isso não nega, obviamente, que em toda situação de
convulsão haverá aqueles que desejam se aproveitar da situação de caos e
desordem.
Considerando todas as particularidades e diferenças
de fundo, três aspectos comuns se destacam. A partir deles, podemos vislumbrar
o curso dos acontecimentos e as respostas necessárias.
Primeiro, a maioria dos que saíram às ruas é gente
jovem e, em geral, razoavelmente informada, de classe média e com capacidade de
dedicar tempo e energia ao protesto.
Pessoas abandonadas na pobreza extrema dificilmente
poderiam ser o núcleo dessa onda de contestação sustentada.
Uma classe média em que as expectativas frustradas
funcionam como um disparador que atrai outras gerações.
Segundo, reivindicações cuja essência não tem uma
natureza qualificável como “economicista”.
O que há em comum tem mais a ver com expectativas
frustradas e com as lacunas que separam as pessoas da institucionalidade
pública, assim como a distribuição desigual de poder, não só de renda.
Há muito em comum, assim, entre os que exigem ser ouvidos no Chile e
os coletes amarelos na França, marginalizados pela institucionalidade, passando
pelos que lotam as praças toda semana na Argélia pedindo democracia.
Terceiro, as redes sociais, que dão aos protestos
não só velocidade e impacto espetaculares — deixando inertes os sistemas
de segurança e alerta precoce dos Estados — e favorecem um fenômeno maciço
e contínuo sem que caudilhos(as) sejam imprescindíveis.
Isso ocorreu antes na Tunísia e no Egito e se
observa agora no Chile, Hong Kong e em todas as partes.
Essa dinâmica envolve um leque muito amplo e
diverso de assuntos, que têm a ver com a economia, a distribuição de renda, uma
institucionalidade pública questionada e, em geral, uma ampla percepção de
exclusão.
A saída não pode apontar, portanto, para soluções
tecnocráticas ou unidimensionais, mas a passos maiores e inventivos. Que têm a
ver, entre outras coisas fundamentais, com as modalidades de exercício do
poder.
Nisso, a importante — mas insuficiente —
eleição periódica dos que ocupam cargos públicos exige uma institucionalidade
criativa e revigorada que dialogue, escute e se ajuste a uma sociedade que se
retroalimenta de informação, impaciência e frustração, mas também de
esperanças.
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