Você provavelmente conhece os principais fatores de risco das doenças
cardíacas: pressão alta, colesterol
alto, tabagismo, diabetes, obesidade e sedentarismo.
E é provável que seu médico o tenha examinado mais de uma vez em busca
desses riscos e, espero, tenha lhe dado conselhos ou receitado um tratamento
para ajudar a evitar um ataque cardíaco ou um derrame.
O estresse psicológico estimula a estrutura cerebral do medo,
desencadeando uma série de reações cujo resultado pode ser um enfarte ou um
AVC. (Rachel Levit Ruiz/The New York Times)
Mas será que seu médico
também lhe perguntou sobre seu nível de estresse?
Estudos recentes indicam que o estresse psicológico crônico pode ser tão
importante – e possivelmente mais importante – para a saúde do seu coração do
que os fatores de risco cardíaco tradicionais.
De fato, em pessoas com um coração menos saudável, o estresse mental supera o
estresse físico como potencial promotor de ataques cardíacos fatais e não
fatais e outros eventos cardiovasculares, de acordo com o último relatório.
O novo estudo, publicado em novembro no periódico "Jama",
avaliou 918 pacientes com doença cardíaca subjacente, mas estável, para ver
como seu corpo reagiria ao estresse físico e mental.
Os participantes foram submetidos a testes padronizados de estresse
físico e mental para ver se o coração desenvolveria isquemia miocárdica – fluxo
sanguíneo significativamente reduzido para os músculos do coração, o que pode
ser um gatilho para eventos cardiovasculares – durante ambas as formas de
estresse.
Depois disso, os pesquisadores os acompanharam por um período entre
quatro e nove anos.
Entre os participantes do estudo que sofreram isquemia durante um dos
testes ou ambos, essa reação adversa ao estresse mental teve um impacto
significativamente maior no coração e na vida dos pacientes do que o estresse
físico.
Eles apresentaram maior propensão de sofrer um ataque cardíaco não fatal
ou morrer de doença cardiovascular nos anos seguintes.
Quem me dera eu soubesse disso em 1982, quando meu pai teve um ataque
cardíaco que quase o matou.
Ao sair do hospital, ele foi avisado sobre o excesso de estresse físico,
como não levantar nada que ultrapassasse 14 quilos; mas nunca foi advertido
sobre o estresse emocional indevido ou os riscos de reagir
exageradamente a circunstâncias frustrantes, como quando um motorista dirigia à
sua frente muito devagar em um trecho de ultrapassagem proibida.
As novas descobertas ressaltam os resultados de um estudo anterior que
avaliou a relação entre fatores de risco e doenças cardíacas em 24.767
pacientes de 52 países.
Constatou-se
que os pacientes que experimentaram um alto nível de estresse psicológico no
ano anterior ao início do estudo tiveram mais do que o dobro de chances de sofrer um ataque cardíaco durante o
acompanhamento médio de cinco anos, mesmo quando os fatores de risco
tradicionais foram levados em conta.
O
estudo, conhecido como Interheart, mostrou que o estresse psicológico é um
fator de risco independente para ataques cardíacos, tão prejudicial ao coração quanto os riscos cardiovasculares mais
comumente monitorados, explicou o dr. Michael Osborne, cardiologista do
Hospital Geral de Massachusetts.
Mas quanto aos efeitos do
estresse em pessoas cujo coração ainda é saudável?
O estresse psicológico vem de muitas formas. Pode ocorrer de maneira
aguda, causado por incidentes como a perda do emprego, a morte de um ente
querido ou a destruição da casa em um desastre natural.
Um
estudo recente na Escandinávia descobriu que, na semana seguinte à morte de uma
criança, o risco de os pais terem um ataque cardíaco era mais de três
vezes a taxa esperada. O estresse emocional também pode ser crônico, resultante, por exemplo, da
contínua insegurança econômica, da vida em uma área de alta criminalidade ou de
sofrer de depressão ou de ansiedade implacáveis.
Os pais enlutados no estudo escandinavo continuaram a experimentar um
risco cardíaco elevado anos depois.
Osborne participou, com uma equipe de especialistas liderada pelo dr.
Ahmed Tawakol, também do Hospital Geral de Massachusetts, de uma análise de
como o corpo reage ao estresse psicológico.
Ele disse que as provas acumuladas de como o cérebro e o corpo respondem
ao estresse psicológico crônico sugeriam que a medicina moderna estava negligenciando
um risco criticamente importante para a saúde do coração.
Tudo
começa no centro de medo do cérebro, a amígdala, que reage ao estresse ativando
a chamada resposta de luta ou fuga, desencadeando a liberação de hormônios que ao
longo do tempo podem aumentar os níveis de gordura corporal, pressão arterial e
resistência à insulina.
Como explicou a equipe, a série de reações ao estresse também causa
inflamação nas artérias, promove a coagulação do sangue e prejudica o
funcionamento dos vasos sanguíneos, e tudo isso leva à aterosclerose, doença
arterial por trás da maioria dos ataques cardíacos e derrames.
A
equipe de Tawakol explicou que o exame de neuro-imagem avançado possibilitou
medir diretamente o impacto do estresse em vários tecidos do corpo, incluindo o
cérebro.
Um estudo prévio com 293 pessoas inicialmente livres de doenças
cardiovasculares que foram submetidas a um exame de corpo inteiro, incluindo a
atividade cerebral, teve um resultado revelador. Cinco anos depois, os
indivíduos com alta atividade na amígdala apresentaram maiores níveis de
inflamação e aterosclerose.
Tradução:
Aqueles com alto nível de estresse emocional desenvolveram evidências
biológicas de doenças cardiovasculares.
Em contraste, segundo Osborne, pessoas sem predisposição genética são
menos propensas a experimentar os efeitos cardíacos do estresse.
Os pesquisadores estão agora investigando o impacto cerebral de um
programa de redução de estresse chamado Smart-3RP (sigla em inglês para
Gerenciamento de Estresse e Treinamento de Resiliência – Programa de Resposta
Relaxamento e Resiliência), além de fatores biológicos que promovem a
aterosclerose.
O programa foi projetado para ajudar as pessoas a reduzir o estresse e a
desenvolver a resiliência por meio de técnicas que aliam mente e corpo, como
meditação baseada em atenção plena, ioga e tai chi.
Tais medidas ativam o sistema nervoso parassimpático, que acalma o
cérebro e o corpo.
Osborne afirmou que, mesmo sem um programa formal, as pessoas podem
minimizar as reações prejudiciais do corpo ao estresse. Uma das melhores
maneiras é o exercício físico habitual, que
pode ajudar a diminuir o estresse e a inflamação corporal por ele causada.
Como o sono ruim aumenta o estresse e promove a inflamação arterial, desenvolver
bons hábitos de sono também pode reduzir o risco de danos
cardiovasculares.
Adote um padrão
consistente de horário de dormir e despertar, e
antes disso evite a exposição a telas que emitem luz azul, como a do smartphone
e a do computador, ou use filtros de luz azul para esses dispositivos.
Adote práticas relaxantes, como a atenção plena, técnicas calmantes para
controlar a respiração, ioga e tai chi.
Osborne
ensinou que vários medicamentos comuns também podem ajudar. As estatinas não só reduzem o
colesterol, mas também combatem a inflamação arterial, resultando em um
benefício cardiovascular maior do que apenas seus efeitos de redução do
colesterol.
Os antidepressivos, incluindo a cetamina anestésica, também podem ajudar
a minimizar a atividade excessiva da amígdala e aliviar o estresse em pessoas
com depressão.
Conteúdo
e Imagem: 2022 The New York Times
Company.
Imagem: (Rachel Levit Ruiz/The New
York Times)
Por: Jane E. Brody.
Portal
MSN.
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