SPC: O que pensam os
brasileiros endividados sobre a proposta de Ciro
A pouco menos de um mês do primeiro turno das eleições
presidenciais e mesmo após o início da propaganda eleitoral na TV, ainda há
muitos eleitores indecisos sobre a definição do seu candidato a presidente.
Em meio aos debates televisivos, uma das propostas
que mais chamou a atenção foi a do candidato Ciro Gomes
(PDT) de “limpar” o nome dos brasileiros endividados do Sistema de Proteção ao
Crédito (SPC).
Bastou o candidato prometer que, se for eleito, o
brasileiro teria o nome limpo, para agitar as discussões em torno do assunto.
O Brasil possui hoje 63,4 milhões de pessoas com o nome inscrito no SPC — o que
representa 43% do número total de eleitores (173,4 milhões).
A dívida média, segundo a entidade, é de 2.600
reais. Em sua proposta, o candidato do PDT pretende eliminar os juros,
correções monetárias e as multas para em seguida promover o refinanciamento das
dívidas com apoio dos bancos públicos, a juros bem menores.
A pesquisa Datafolha sobre a disputa para Presidência da República
divulgada nesta segunda-feira (10) apontou um crescimento de Ciro Gomes, que
aparece em segundo lugar, com 13% das intenções de voto, empatado na margem de
erro com a candidata Marina Silva (Rede), com 11%. Geraldo Alckmin (PSDB) tem 10%
e Fernando Haddad (PT), 9%.
Em primeiro lugar está o candidato Jair Bolsonaro
(PSL), com 24% das intenções de voto.
Diante do discurso de Ciro Gomes, VEJA conversou
com cinco eleitores indecisos que possuem o nome restrito para ver o que eles
pensam da proposta do presidenciável. Todos são unânimes em dizer que
consideram a proposta eleitoreira — que tem como objetivo atrair o voto do
eleitor —, mas divergem quando questionados se a promessa os faria mudar de
voto.
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“A proposta de refinanciamento da dívida é boa,
claro. Mas quem garante que o governo vai conseguir fazer isso? Além disso, de
que adianta eu ter o meu nome limpo e continuar esperando de quatro a cinco
horas para passar por uma triagem no pronto-socorro público e esperar mais
tantas horas para passar pelo médico?
De que adianta ter nome limpo e minha filha
continuar estudando nas famosas ‘escolas de lata’?”, questiona a babá Maria
Edcleide de Vasconcelos, de 39 anos. “Não é isso que vai definir o meu voto”,
afirma.
Ainda indecisa sobre o seu candidato a presidente,
Edcleide nem consegue dizer qual o valor da sua dívida hoje — só sabe que tem
mais de dez anos e que começou com cerca de 3.000 reais. “Eu tirei uma moto no
nome de um primo. Ele pagou 80% das parcelas em dia, mas quando perdeu o
emprego não conseguiu mais honrar os pagamentos.
Eu também não tinha condições e até hoje pago o
preço por isso”, diz ela, que precisa pedir o cartão de crédito da irmã
emprestado sempre que precisa fazer uma compra de valor mais alto.
A gerente de vendas Fabiane Collis Bernardi, de 45
anos, também recorre aos familiares quando precisa fazer uma compra parcelada e
até mesmo para conseguir matricular os filhos na escola particular do bairro.
Ela, que tem o nome restrito há mais de dez anos,
teve de pedir para o cunhado financiar no nome dele um carro para ela. “Eu
paguei todas as parcelas em dia, mas não deixa de ser constrangedor ter que
pedir esse tipo de favor”, diz.
Fabiane possui o nome restrito, porque emprestou
dinheiro do banco para construir sua casa e também porque assinava como
responsável por uma empresa que faliu.
Sua dívida hoje gira em torno de 30.000 reais. Ela
também não definiu em quem vai votar para presidente, mas considera a proposta
de Ciro Gomes interessante.
“Me parece um pouco eleitoreira, porque o Brasil
inteiro está endividado, mas se ele nos der uma chance para podermos limpar
nosso nome já ajuda bastante. Eu fiz a dívida e quero pagar, mas não com esses
juros absurdos.”
© VEJA.com Fabiane Collis Bernardi,
45 anos: “Se ele (Ciro Gomes) nos der uma chance para podermos limpar nosso
nome já ajuda bastante”.
O frentista Diones Modesto de Souza, de 25 anos, é
outro que faz ponderações sobre o projeto. “Limpar o nome pode ajudar, mas não
resolve o problema do país. Eu quero um presidente que tenha como prioridade
investir em saúde, educação e emprego para o povo”, afirmou.
Diones tem o nome restrito há cerca de dois anos,
porque fez um empréstimo para construir uma casa e sair do aluguel, mas perdeu
o emprego no período. Ficou mais de um ano desempregado e não conseguiu pagar
as parcelas do empréstimo.
Hoje a dívida beira em 20.000 reais. “Ganho 1.500
reais por mês. Não tenho como pagar 800 reais de parcela para quitar a dívida”,
diz.
Apesar de considerar a proposta do candidato Ciro
Gomes interessante, Diones afirma que apenas isso não o faria votar no
presidenciável. “O que adianta o candidato limpar o nome do povo e não dar
emprego? O nome vai ficar limpo temporariamente, pois sem emprego daqui a pouco
a pessoa se endivida de novo”, acredita.
A dona de casa Mirtania Lopes Araújo, de 43 anos,
diz que não perde um debate na televisão com os candidatos a presidente mas
também ainda não definiu o seu voto. Cearense, ela admite que já trabalhou como
cabo eleitoral do candidato do PDT à época em que ele foi governador do estado,
mas ainda assim não tem certeza de que vai votar nele.
Ela está com o nome negativado há pelo menos três
anos por conta de despesas médicas com a filha, que acabaram extrapolando o
limite do cartão de crédito.
A dívida que começou em cerca de 2.000 reais já
está em torno de 9.000 reais.
Quando viu a proposta do candidato em uma sabatina
no Jornal Nacional, no final de agosto, foi buscar mais informações no programa
de governo dele, mas o site estava congestionado.
“Ainda não consegui entender como o Ciro pretende
fazer isso, me parece algo muito eleitoreiro, porque são milhões de brasileiros
devendo. Se for algo muito fácil, certamente o cidadão vai sujar o nome de
novo”, avalia ela, que diz que não quer receber nada de graça.
“A pessoa com nome no SPC não é ninguém, não tem
vida própria. A gente quer pagar a nossa dívida, o problema é que não querem
receber o que podemos pagar. Eu quero um país de oportunidades para os meus
filhos e não de facilidades”, afirmou.
A fiscal de caixa Tamires Gomes da Silva, de 28
anos, está com o nome negativado há três anos também por conta de despesas no
cartão de crédito e porque fez um empréstimo em seu nome para uma tia, que
também não pagou as parcelas.
Sem emprego por um período, não conseguiu pagar as
parcelas e entrou na lista de brasileiros inadimplentes — somando as duas
dívidas hoje ela deve cerca de 5.000 reais.
Quando soube da proposta de Ciro, Tamires não se
empolgou muito. “Para mim parece jogada de marketing. A dívida do brasileiro é
muito alta, como o governo vai fazer para que isso se torne real?”, questiona.
Ainda indecisa sobre o destino do seu voto, Tamires diz que vai continuar
assistindo aos debates entre os candidatos na televisão para tentar chegar a
uma decisão.
“O Brasil tem muito mais problemas do que as
dívidas do povo. Ainda preciso pensar mais.”
Fernanda Bassette.
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