COMO O HEMISFÉRIO NORTE VIROU O MAIOR AQUECEDOR DA TERRA.
Quando a gente publica notícias do derretimento acelerado dos gelos outrora eternos que cobrem o Ártico ou o topo das montanhas muita gente imagina que isso é só um problema para ursos polares, esquimós e esquiadores. Mas o degelo nesses lugares remotos tem um impacto direto em todo o planeta. As superfícies brancas de neve, que predominam nessas regiões, têm um papel fundamental na regulagem do clima. Elas refletem parte dos raios solares. Se desaparecerem, a luz do sol passará a ser absorvida pelo solo ou pela água do mar (mais escuros), o que ajuda a esquentar a Terra. E é exatamente isso que está acontecendo. Na medida que o aquecimento global reduz a superfície refletiva de gelo e neve, mais radiação solar é absorvida e mais rápido segue o aquecimento, que por sua vez derrete mais gelo e neve. É um dos processos de aceleração descontrolada mais temidos das mudanças climáticas.

Agora, um estudo recente publicado na revista científica Nature Geoscience, conseguiu medir o quanto o derretimento do gelo no hemisfério norte (que tem mais terra firme) influi no aquecimento geral do planeta. Graças ao degelo dos últimos anos, a região passou a despejar mais 100 PetaWatts de energia na Terra. São 100 quatrilhões de watts. É como se o derretimento do gelo tivesse acendido 1.000.000.000.000.000 lâmpadas incandescentes de 100 watts para nos esquentar. Isso equivale a sete vezes toda a energia que a humanidade consome em um ano.
No estudo, a equipe liderada por Mark Flanner, da Universidade de Michigan usou dados de satélite para medir quanta superfície reflexiva de gelo foi perdida nos últimos 30 anos. E quanto isso significou em absorção de calor.
A imagem da direita mostra quanta energia o gelo do hemisfério norte refletiu em média entre 1979 e 2008. Quanto mais azul escuro, mais energia foi mandada de volta para o espaço. A Groenlândia reflete mais luz do que qualquer outra área do hemisfério. O segundo grande rebatedor de luz do sol é a camada de gelo sobre o Oceano Ártico. A faixa no meio da Ásia são as geleiras do Himalaia.
A imagem da direita mostra como a capacidade de reflexão mudou entre 1979 e 2008. A parte de azul mais forte passou a refletir mais 8 watts por metro quadrado. A parte com vermelho mais forte passou a absorver mais 8 watts. Como se cada pedaço de terra (antes coberta por gelo) do tamanho de um quarto pequeno ganhasse uma lâmpada de 80 acesa dia e noite, esquentando o planeta. No mapa, dá para ver que o aquecimento é mais intenso no litoral do Ártico, da Groenlândia e no Himalaia, regiões que perderam geleiras rapidamente nos últimos anos.
Revista ÉPOCA. (Alexandre Mansur)

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