Galperin: sobrevivente da bolha de 1999-2000 prevê crescimeno no setor
Há poucas semanas, o presidente do Google, Eric Schmidt, se juntou ao coro dos analistas que acredita que uma nova bolha está em crescimento no mercado de internet, sobrevalorizando empresas do setor como a rede social Facebook e a produtora de games Zynga.
Aos 39 anos, o argentino Marcos Galperin, fundador e CEO do Mercado Livre – site de compra e venda de produtos cujo valor de mercado supera os 3 bilhões de dólares – discorda.
Sobrevivente da bolha que estourou em 1999-2000, Galperin defende que hoje o mercado de internet é substancialmente mais maduro e, principalmente, rentável.
“Temos empresas na web que são rentáveis. No início dos anos 2000, isso não existia”, diz. É justamente essa rentabilidade que levará o Facebook e o site de compras coletivas Groupon à abertura de capital no prazo de cinco anos, aposta o empresário.
Galperin veio ao Brasil para visitar a nova sede do Mercado Livre, em Alphaville, na Grande São Paulo, e conversou com VEJA acerca do mercado de internet e também do papel de sua empresa. Confira a entrevista a seguir.
Estamos assistindo à formação de uma nova bolha da internet?
Acredito que não. Se compararmos os dias de hoje com 1999 e 2000, é possível concluir que temos dois cenários distintos. Naquele período, as empresas valiam milhões, mas não apresentavam grandes receitas. Hoje, Facebook e Groupon, por exemplo, são exemplos de corporações criadas na web que inovaram e são extremamente rentáveis. Dentro de cinco anos, abrirão capital na bolsa de valores.
O Mercado Livre abriu seu capital na bolsa de valores em 2007, permitindo que interessados investissem na empresa. Qual a diferença de fazer isso naquele momento e hoje?
Hoje é muito mais fácil. Na época, o mercado para a web era mais fechado e contava com certa desconfiança de executivos. Muitas empresas não queriam arriscar investindo em jovens empreendedores que desenvolviam serviços virtuais de utilidade pública. Principalmente no setor de tecnologia. A popularidade da internet contribuiu para que empresas se transformassem em gigantes do setor. É só conferir os valores atuais de mercado do Facebook (estimado em 50 bilhões de dólares), por exemplo. O mercado percebeu, de fato, o impacto que empresas de internet provocam na vida das pessoas.
Em entrevista a VEJA Stelleo Tolda, diretor-presidente do Mercado Livre, disse que a empresa caminha para a criação das APIs públicas (recurso que permite que profissionais independentes criem serviços para o site).
Em que pé está esta estratégia?
Aos poucos, o Mercado Livre vai apresentar uma nova arquitetura, oferecendo muitas APIs públicas. Não temos uma data definida, mas o ano será marcado pela abertura da empresa na web.
O Mercado Livre foi criado quando você e Tolda estudavam na Universidade de Stanford – história semelhante à da criação de Google e Facebook. Os grandes negócios da internet começam na universidade?
Stanford é privilegiada por estar próxima do Vale do Silício. Além disso, a entidade tem um espírito e ambiente empreendedor – dos professores aos alunos. O local é conhecido pelo laço colaborativo construído por todos. No entanto, não podemos esquecer também da proximidade das fontes financeiras, que sustentam a ideia dos negócios.
Qual é o futuro do Mercado Livre frente ao crescimento vertiginoso de sites de compras coletivas?
O Mercado Livre é o oposto de um site de compras coletivas. No futuro, se apoiará em três princípios: sociabilidade, geolocalização e mobilidade. Com a estratégia de localizar as ofertas de produtos, será possível encontrar compradores e vendedores próximos ao usuário. Nesse sentido, o grupo será uma empresa mais flexível, aberta à participação e construção de programas atrelados, e com uma inteligência capaz de construir comunidades em torno de um negócio. Prova disso é nossa recente ferramenta que ensina pessoas a vender seus produtos no próprio site. É um circuito de capacitação à distância que permite encontrar oportunidades de construir seu próprio negócio.
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