“BAND-AID” ELETRÔNICO FACILITA O DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS.
A invenção do adesivo ultrafino desenvolvido nos Estados Unidos foi divulgada nesta quinta-feira. Com ele, é possível registrar a frequência cardíaca, as ondas cerebrais, a atividade dos músculos e muito mais
INOVAÇÃO
Imagem mostra o EES aplicado sobre a pele de uma pessoa. À primeira vista, é difícil entender a utilidade da invenção anunciada nesta quinta-feira (11) como uma bela contribuição para a medicina diagnóstica. É uma tatuagem? Um band-aid? Parece, mas o protótipo desenvolvido nos Estados Unidos é pura inovação.
Nada semelhante está disponível hoje nas farmácias, nos hospitais ou nos estúdios de tatoo. Os inventores do quadradinho transparente que aparece nas fotos desta página o chamam de sistema eletrônico epidérmico. Em inglês, a sigla é EES.
Trata-se de um adesivo ultrafino que contém um sistema eletrônico sofisticado. Pode ser usado para registrar a frequência cardíaca, as ondas cerebrais, a atividade dos músculos e muito mais. Sem eletrodos, fluidos condutores ou aquelas colas que melecam os cabelos de quem faz um eletroencefalograma.
Para ler os sinais elétricos emitidos pelo corpo, basta colar o adesivo na pele e retirá-lo ao final do exame. Simples como uma tatuagem temporária.
No adesivo, os engenheiros incorporaram sensores minúsculos, diodos que emitem luz, finíssimos transmissores e receptores de sinais e redes de filamentos metálicos.
O trabalho foi liderado pelo engenheiro John A. Rogers, da University of Illinois, em parceria com pesquisadores de Cingapura e da China. A tecnologia foi apresentada num artigo publicado na revista Science.
“Nosso objetivo era criar uma tecnologia eletrônica que pudesse ser integrada à pele de forma que fosse mecanicamente e fisiologicamente invisível ao paciente”, diz Rogers.
“Desenvolvemos uma solução que adquiriu as propriedades físicas da epiderme. É uma tecnologia que desafia a distinção entre a eletrônica e a biologia.”
Todas as formas conhecidas de circuitos eletrônicos são rígidas. Todas as formas vivas são leves, elásticas. São dois mundos diferentes, mas os pesquisadores parecem ter encontrado um jeito de integrar esses dois mundos.
Por enquanto, o dispositivo é apenas um protótipo. Está longe de chegar ao mercado. “Nesse momento não é possível avaliar o preço que ele terá”, diz Rogers.
Atualmente o sistema de monitoração é conectado a um computador externo por meio de um cabo muito fino. Não é a solução ideal. Os cientistas estão tentando encontrar uma forma de enviar os dados por sinais de rádio.
Para coletar os sinais do organismo, o sistema precisa de pouca energia. A equipe está desenvolvendo minúsculos coletores de energia solar para abastecê-lo.
Os possíveis usos do sistema eletrônico epidérmico vão além do diagnóstico de doenças. Estudos demonstram que a estimulação elétrica pode acelerar a cicatrização de cortes e feridas. Em tese, portanto, o “band-aid” inteligente poderia curar ferimentos de uma forma impensável hoje.
“No futuro, acredito que existirão dispositivos que não apenas monitoram a saúde, mas também estimulam e interagem com o tecido num nível profundo.
”O dispositivo também se mostrou útil em regiões do corpo nas quais é difícil instalar sensores. É o caso da garganta. Os pesquisadores testaram o EES para observar a atividade muscular durante a fala.
O dispositivo garantiu bastante precisão ao experimento. Os pesquisadores puderam diferenciar palavras e até controlar, com 90% de acurácia, um videogame ativado pela voz.
“Essa invenção pode ser um importante avanço conceitual no campo dos equipamentos eletrônicos para vestir”, diz o professor de engenharia da computação Todd Coleman, da Universidade da Califórnia, em San Diego. “Essa tecnologia pode conectar a pessoa ao mundo virtual de uma forma totalmente natural e confortável.”
Essa é uma grande vantagem, principalmente nos estudos que pretendem avaliar a atividade cerebral. “Se queremos entender como o cérebro funciona na vida cotidiana, isso é totalmente incompatível com estudos baseados em eletroencefalogramas feitos em laboratório”, diz Coleman. Ou seja: o ideal seria que o voluntário colocasse um sensor de atividade cerebral e se esquecesse dele no dia-a-dia.
No mundo da informática e do entretenimento, o destino dos aparelhos eletrônicos é se tornar menor e mais eficiente a cada geração. Queremos computadores e celulares cada vez mais leves, rápidos e abastecidos por baterias incansáveis.
Nos consultórios e nos hospitais, os novos equipamentos de diagnóstico ocupam menos espaço e podem ser transportados com facilidade. Se chegar ao mercado, o band-aid eletrônico tem tudo para virar o novo sonho de consumo.
Revista ÉPOCA online. CRISTIANE SEGATTO
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