Hotelaria
Redes tentam burlar entraves e falta de
financiamento para conseguir se expandir no país. Interior se destaca na
atração de investimentos
A operadora hoteleira Hilton, que pertence ao fundo
de private equity Blackstone, possui dez bandeiras e
está presente em 78 países, com cerca de 540 hotéis para todos os bolsos – o
que significa uma média de sete hotéis por país. Contudo, o Brasil, que é a
sexta maior economia do mundo, conta com apenas um hotel Hilton na cidade
de São Paulo.
No caso do grupo Starwoods, também dos Estados
Unidos, que tem 1.076 hotéis de bandeiras como Sheraton, W e Le Meridien em
mais de 100 nações, são apenas quatro as propriedades em território nacional.
Ambos os exemplos refletem não só o desenvolvimento desastrado do turismo no
país, como também a dificuldade que grandes redes possuem em promover a
expansão de suas operações.
Não à toa, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), 85,5% dos apartamentos disponíveis em hotéis
brasileiros oferecem baixo ou médio conforto, o que mostra uma dose
considerável de amadorismo no setor e que é reflexo da concorrência ainda
modesta com as principais redes internacionais.
Conheça as novidades do setor hoteleiro para o
Brasil.
Depois
de assumir a Fazenda Boa Vista e inaugurar uma unidade em Punta del Este, no
Uruguai, o grupo Fasano prepara três grandes empreendimentos com abertura
prevista para os próximos anos.
Em
2013, estão previstas as inaugurações do Fasano Belo Horizonte e Salvador. O
primeiro ocupará o antigo prédio do Instituto de Previdência dos Servidores do
Estado de Minas Gerais (Ipsemg) e contará com investimentos da ordem de 46
milhões de reais, com inauguração prevista para o segundo semestre do próximo
ano.
Já o
de Salvador, também previsto para 2013, está localizado em frente à praça
Castro Alves, na antiga sede do Jornal A Tarde – edifício dos anos 1930 e
tombado como patrimônio histórico da cidade baiana. O Fasano Trancoso, que
ainda não começou a ser construído, tem inauguração prevista para 2015.
O fato é que, mesmo com a perspectiva de aumento da
demanda, os lançamentos hoteleiros estão longe de suprir as necessidades do
país, sobretudo em relação aos dois maiores eventos esportivos que acontecerão
nos próximos anos: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Segundo Mateus Cabau, diretor de desenvolvimento da rede Atlantica Hotels, que
prevê lançar 38 novas unidades nos próximos três anos, os preços de terrenos e
imóveis ainda são o maior entrave.
“Em lugares como São Paulo e Rio de Janeiro, a
conta não fecha. É muito difícil conseguir um investidor porque os preços estão
tão altos, que não compensam como investimento”, afirma. De todos os
lançamentos da rede, nenhum será nessas capitais.
Concorrência imobiliária
Outro entrave é o fato de investimentos em imóveis
residenciais e comerciais terem dominado o mercado nos últimos cinco anos. “O
investidor acostumou-se com um retorno de curto prazo no setor imobiliário. Por
isso, a hotelaria havia deixado de ser interessante, já que começa a dar algum
retorno somente depois de três anos”, afirma Cristiano Vasques, da consultoria
HotelInvest.
Além de tudo, a crise que se abateu sobre o setor
hoteleiro na década de 2000 acabou afugentando muitas redes e investidores.
“Havia uma clara superoferta e a demanda de hóspedes caía. Isso intimidou
muitas empresas e o quadro só começou a se reverter por volta de 2007”, afirma
Paula Muniz, porta-voz da área de desenvolvimento do Hilton Brasil.
Novos tempos
Mas os empresários do setor começam a notar algumas
mudanças no horizonte. A trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic) e
a relativa estabilização dos preços no mercado imobiliário fizeram com que
empreendimentos hoteleiros voltassem a despertar interesse.
“Os investidores estão mais receptivos a esse tipo
de negócio agora. Mas ainda não se pode dizer que mudaram de mentalidade.
Encontrar uma pessoa disposta a financiar um empreendimento inteiro ainda é
muito difícil”, diz Vasques, da HotelInvest.
Na avaliação do sócio da consultoria hoteleira BSH
International, José Ernesto Marino Neto, a pujança do setor hoteleiro
brasileiro está no interior, e deverá continuar assim por algum tempo.
“Famílias muito ricas decidem investir em hotéis de duas ou três estrelas como
forma de diversificação. São essas pessoas que estão movimentando o segmento”,
afirma.
A rede Accor, que conta com nove bandeiras no país,
deverá inaugurar 88 novos hotéis até 2015 – o equivalente a 13 mil
apartamentos. Desse total, a metade corresponde a hotéis da bandeira Ibis e
Ibis Budget – novo nome do Formule1, que corresponde à categoria econômica da
empresa.
O interior do país continua como o principal
destino dos investimentos. “Em São Paulo, temos 45 hotéis em operação e nenhum
em construção”, afirma Abel Castro, diretor de desenvolvimento da Accor América
Latina. A empresa está, inclusive, testando o modelo de franquias para acelerar
a expansão. “São unidades operadas por terceiros que seguirão o mesmo padrão de
excelência e terão a supervisão da Accor”, diz.
Burocracia e tributação
O grande pleito das redes hoteleiras com interesse
no país é um financiamento mais alongado por parte do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – que hoje disponibiliza uma linha
de crédito com prazo de pagamento de, no máximo, dez anos. "Financiar um
projeto com esse horizonte é muito arriscado, pois o prazo é muito curto",
afirma Cabau, da Atlantica Hotels.
Como os retornos nos empreendimentos hoteleiros são
de longo prazo, acabam sendo interessantes para investidores pessoa-física que
desejam adquirir um apartamento dentro do empreendimento. "É dessa forma
que financiamos a maior parte de nossos hotéis", diz o executivo.
Contudo, mesmo com um investidor a postos, não
significa que o cenário se abranda. Há a segunda etapa: a aprovação do projeto
por parte das autoridades. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, leva cerca
de um ano para autorizar a construção de um hotel na cidade. No Rio de Janeiro
e em Belo Horizonte, devido à urgência da Copa, as prefeituras implantaram um
sistema de aprovação relâmpago para tentar atrair investidores.
Revista
VEJA online. Ana Clara Costa. Hotel da Bahia: empreendimento quer ser o
'Copacabana Palace' de Salvador (Reprodução)
Nenhum comentário:
Postar um comentário