467 mil brasileiros estavam trabalhando em setembro
deste ano e buscavam mais uma atividade
Rio
- Para fechar as contas, não basta o salário, nem cortar gastos. Transformar o
hobby em atividade lucrativa tem sido a alternativa de muita gente para driblar
a crise e aumentar a renda. De acordo com Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do
IBGE — realizada nas principais regiões metropolitanas do país —, em um ano,
cresceu a procura de brasileiros por uma segunda ocupação. E, nos últimos
meses, esse movimento se intensificou. Somente na passagem de agosto para
setembro, mais 66 mil trabalhadores estavam atrás de outra atividade, seja um
emprego ou um ‘bico’.
A designer Renata
Freitas se profissionalizou na área de maquiagem
Foto: Daniel
Castelo Branco / Agência O Dia
Em
busca de uma ‘folga’ no bolso, há cinco meses, a designer gráfica Renata
Freitas, 33 anos, decidiu investir em uma paixão: a maquiagem. Ela fez um curso
profissionalizante e, agora, o que era apenas lazer, virou um negócio que
ganhou até nome — ‘Rê Freitas Make Up Artist’.
“O
que mais me motivou foi a possibilidade de ter uma grana a mais e conciliar
essa atividade com o meu emprego, que não pretendo abandonar. Além disso, para
mim, a maquiagem é mais um hobby remunerado do que um trabalho”, contou ela,
que tem como meta aumentar em 30% a sua renda mensal.
Há
ainda quem acumule três trabalhos. É o caso da analista financeira Maria
Cláudia Rocha, 37, que tem uma filha de 7 anos. Formada em Comunicação Social e
pós-graduada em Gestão Empresarial, ela começou a fotografar festas infantis há
um ano. Mas não foi suficiente e, há dois meses, ela também trabalha como
revisora ortográfica de teses de mestrado.
“A
situação começou apertar há um ano. Trabalho em todas as horas vagas”, disse.
Técnico-eletrotécnico
de uma empresa, Renato Cavallini, 34, comprou uma van há três meses para
transportar grupos para eventos. Casado e com duas filhas, ele pretende ainda
fazer condução escolar, ao receber autorização da Prefeitura do Rio. “Já estou
conseguindo pagar as prestações do veículo e estimo um lucro daqui a uns meses
com a condução”, vislumbrou.
Economista
e professor da PUC-Rio, José Márcio Camargo explica que o aumento da procura
por ‘bicos’ está relacionado à alta da inflação e à queda dos salários reais.
“Diante desse quadro, muitos que estão empregados tentam ampliar a renda. E há
ainda quem olhe mais à frente e, com medo de demissão, tenta se antecipar
encontrando uma nova atividade”, analisa Camargo.
Especialista
orienta trabalhadores
Professor
de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral, Gilberto Braga dá dicas aos
trabalhadores que precisam encontrar alternativas para garantir uma grana
extra. De acordo com o especialista, as atividades virtuais são as que mais
crescem, além de serem vantajosas para os trabalhadores, pois exigem menos
investimento.
“Esses
trabalhos à distância estão na moda e requerem investimento baixíssimo. Se a
pessoa tiver computador e acesso de qualidade à internet, consegue executar com
qualidade”, explicou ele, que exemplificou: “Profissionais que constroem sites
e que trabalham com mídias sociais são alguns exemplos. Advogados também levam
vantagem, já que hoje muitos processos são virtuais”, disse.
Segundo
o economista, os trabalhos manuais, como os artesanais e a confecção de
salgados e doces, também estão crescendo. Braga ensina ainda como tornar a
segunda atividade mais lucrativa: “A ideia é enxergá-la como um negócio, e não
como ‘bico’. Se a pessoa vê como ‘bico’, tende a gastar tudo que ganha. E como
negócio, faz planos pra investir mais”.
Ele
também orienta o trabalhador a guardar parte da renda para contratar mais
parceiros futuramente ou a aplicar em fundos de renda fixa.
PALOMA SAVEDRA.
Jornal O DIA online.
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