Na crise, momento de entender o consumidor.
Num contexto em que o preço ganha mais importância, ter uma marca forte, em sintonia com os desejos do cliente, é fundamental para sobreviver — e estar pronto para quando o país voltar a crescer.
As previsões para a economia não são nada boas, e já se fala em recuperação só em 2018. Mas, se de um lado o consumidor vem apertando o cinto diante do avanço da inflação e do desemprego, de outro muitos veem no momento uma oportunidade de fortalecer o que têm de mais valioso: suas marcas, numa complicada equação entre qualidade e preço. A solução? Trabalhar duro.
Depois de crescer 2,7% em 2013, a economia amargou contração de 0,1% no ano passado. Para este ano, economistas esperam que o país encolha cerca de 3%. Tudo isso acompanhado pelo avanço da inflação, que este ano deve fechar em 9%.
Uma conjuntura bem diferente do início da década, quando o Brasil comemorou o “PIBão” de 2010, ao crescer 7,6%, com inflação acumulada em torno de 6%.
O novo cenário aparece com clareza na sexta edição da pesquisa “Marcas dos Cariocas”, parceria do GLOBO com a TroianoBranding: cresceu o peso dado ao critério “Preço”, enquanto “Qualidade” e “Respeito ao Consumidor” tiveram recuo.
No entanto, os dois últimos ainda são os pilares com maior importância, sendo prioridade para 39,6% e 25% dos pesquisados, respectivamente, enquanto o valor do produto fica em terceiro lugar (19,7%).
— A relação entre custo e benefício começa a chamar mais a atenção nestes momentos. O consumidor avalia onde o dinheiro rende mais, com qualidade aceitável — diz Cecilia Russo Troiano, diretora-geral da TroianoBranding. — Quando veio a crise, ele não abriu mão de 100% de suas conquistas.
Procura produtos que atendam a suas necessidades, e o desempate é pelo preço. Tanto que o preço não é o critério que tem maior peso na pesquisa. Em primeiro, vem qualidade e depois respeito ao consumidor.
O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Roberto Kanter, sócio da consultoria Canal Vertical, faz coro. Segundo ele, há, sim, uma preocupação maior com preço. Mas, ressalta, isso vem ocorrendo com as marcas que não estão construindo um vínculo com seus clientes.
Por isso, são “trocadas mais facilmente” por um concorrente de valor mais baixo. Mas Kanter lembra que é hora de ousar.
— É hora de sair do escritório e trocar ideias com o consumidor. Saber o que ele quer e encontrar novas soluções. O menos é mais. Não é preciso uma superfesta. Às vezes, algo básico, mas sincero, é o suficiente.
É olhar para quem já comprou e entender por que deixou de comprar. É entender os novos hábitos, o que o cliente deseja — afirma Kanter.
Isso já está acontecendo.
A pesquisa mostra, por exemplo, o crescimento do critério “Identidade” (“combina comigo”) e “Evolução” (marca que se renova sempre) de 2014 para cá.
Cecilia diz que esse aumento é explicado pelo avanço no número de gestores preocupados com o valor de suas marcas — embalagem, comunicação com o cliente — e pela busca de uma consciência maior em olhar para a marca como alavanca de negócios e não como um gráfico de despesas:
— Esses critérios podem ser lidos como uma marca que fez uma promoção adequada à crise econômica, por exemplo, uma embalagem nova. É o que chamamos de “high tech, high touch”, combinação de tecnologia e leitura humana, que é muito importante.
CUIDADO TAMBÉM NOS TEMPOS DE BONANÇA
Adalberto Viviani, sócio da consultoria de consumo Concept, lembra que os consumidores estão fragilizados neste momento de economia mais fraca. Portanto, as empresas têm de reforçar a cadeia de distribuição para aumentar sua força (e visibilidade) no varejo e no investimento em mídia, em publicidade, em busca de visibilidade:
Preço não é patrimônio. Patrimônio é a percepção de qualidade.
Sempre vai ter alguém vendendo mais barato. A vantagem de comprar uma boa marca é a qualidade. É a certeza de que acertou.
Para acertar, a inovação tem de ser ágil, frisa a publicitária Renata Nogueira, coordenadora-geral de Educação Executiva do Ibmec/RJ.
Segundo ela, as marcas não devem se prender a modelos de negócios, pois, hoje, o ambiente, por ser o inverso de alguns anos atrás, pode resultar em erros em vez de acertos.
— A busca pelo preço é algo mundial e não só do Brasil. Todo mundo quer ter alguma vantagem. A empresa tem que ter velocidade e dinamismo. É essa diferenciação que vai dar fôlego à marca. Os consumidores topam pagar mais se tiver algum diferencial.
É um momento de olhar para dentro e ver se os produtos fazem sentido hoje. E, claro, ver o que os concorrentes estão fazendo — diz Renata.
Kanter, da FGV, lembra, no entanto, que o esforço de manter os clientes “fidelizados” começa antes, nos tempos de otimismo e de crescimento da economia. Por isso, diz ele, conseguem sobreviver melhor as marcas que, na bonança, cuidaram mais de seus consumidores.
— Quando chega a crise, o novo cliente fica mais escasso. E sofrem menos as marcas que, no momento de expansão, cuidaram de seus consumidores. Esse cuidado passa por uma série de ações como programas de fidelidade, lançamentos de produtos e serviços, além de eventos para reforçar a marca e investimentos em publicidade — afirma Kanter.
Segundo ele, mesmo em um ambiente de preços em alta e crédito mais caro, há empresas investindo. Mas alerta que o momento é de redução de margens.
— Crise não é sinal de que não vende. É só o momento de vender menos. Todos se adequam a um cenário de crise. As marcas têm políticas e criam novas ações, seja de preços ou financiamento.
Mas, se o produto é copiável, não tem reputação e o preço continua lá em cima, aí o consumidor vai experimentar outros mais baratos — destaca ele.
Na internet, Renata, do Ibmec/RJ, afirma que a estratégia vai além da presença nas redes sociais. Ela cita como exemplo a criação de aplicativos como forma de estreitar o relacionamento.
— O telefone está na mão de todo mundo. É uma ferramenta poderosa. E é hoje um canal importante para estar perto do consumidor — afirma Renata.
Alexandre Cassiano.
Jornal O GLOBO online.      
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