Quase ausente ou por isso mesmo, hoje Marina é a política mais forte do Brasil.
Chama a atenção na última pesquisa Datafolha a força de Marina Silva. Nos cenários de segundo turno para 2018, a líder política da Rede Sustentabilidade – recém-transformada em partido – bateria Lula, Geraldo Alckmin e empataria com Aécio Neves.
Sua média de intenção de votos nos três cenários é de 47%, bem acima de Lula (32%), Alckmin (37%) e igual à de Aécio (46%). Mas sobre o tucano mineiro guarda uma vantagem inestimável em tempos de demolição da política: sem cargo ou mandato eletivo, Marina pode se beneficiar da ausência de holofotes.
Está distante do cotidiano político enlameado em um momento em que a corrupção é vista como o principal problema do país para 36% da população, superando saúde e desemprego. 
Recentemente encontrei Marina Silva no lançamento de um livro no Rio de Janeiro relacionado à história de Chico Mendes, líder seringueiro assassinado no Acre em 1988.
Busquei observar Marina de perto, que dava entrevistas gravadas em vídeo para smartphones. Achei que a ex-candidata a presidência apenas repetia bordões. Depois, me apresentei como repórter do Yahoo e fiz uma pergunta, sem gravador, sobre se ela via como um risco real a mobilização em torno às mudanças na demarcação das terras indígenas no Congresso, para o que deu uma resposta vaga.
Naquele momento uma comissão da Câmara votava sobre o assunto e ela nada comentou. Pensei que a ex-senadora estivesse fora de sintonia, ou “burned out”, como comentou um jornalista estrangeiro que a entrevistara alguns dias antes.
Burned out é uma expressão utilizada lá fora quando uma liderança política está “consumida como um fósforo riscado”, digamos assim, sem ter mais o que dizer ou apresentar ao público. 
Eu estava enganado.
Observando os números do Datafolha e as pegadas de Marina no Facebook é possível vislumbrar sua potência. Participou recentemente de uma marcha mundial pelo clima, às vésperas da conferência da ONU.
No caso do senador Delcídio deu uma entrevista para a Jovem Pan dizendo com clareza “concordo com a prisão”, repetindo frases que poderiam ter saído da boca do juiz Sérgio Moro: “Ninguém na República está acima da lei” e  “a justiça está com a palavra”. 
Marina está na posição vantajosa de ser uma política fora de um sistema político que está ruindo. Pareceu perceber que estão nas ruínas o nosso futuro imediato. Diante do colapso, observa em espera ativa: low profile.
Sobre o desastre em Mariana (MG), e como divulgou em seus posts no facebook, Marina lembrou em entrevista ao G1 a existência de laudos que apontavam para o risco da barragem da Samarco, se perguntando “por que não agiram de acordo com o princípio da precaução?”.
Apontando para o “descaso”, disse que “não há como precificar vidas”, sobre as dezena de mortes (13 confirmadas) ocasionadas pelo mar de rejeitos de minério de ferro. Qual político na ativa falou nestes termos?
Quando candidata a vice presidente na chapa de Eduardo Campos em 2014, Marina se apresentou, junto com o candidato morto, como uma alternativa e uma superação à dicotomia PT-PSDB, partidos que se revezam no comando do governo federal desde 1994.
É este equilíbrio político, que se adaptou ao mesmo tempo em que moldou o sistema político tal qual é hoje, que está se espatifando. O consenso tácito que se formou em torno a um Novo Brasil a partir do Plano Real de 1994 – e que encontrou na inclusão social uma espécie de meta-síntese durante os anos Lula – está esfrangalhado.
De certa forma, via a Justiça, via Operação Lava Jato, vai se demolindo um sistema político e seus laços econômicos. A isto assistimos ao vivo e online, com os desfechos ainda imprevisíveis. 
Com um partido recém-criado, sem, pelo menos à primeira vista, o DNA deste passado que vai passando, Marina parece tirar proveito de sua condição de quase exilada (para o bem dela) do quadro político atual.
Faz o que é o possível no terremoto do sistema: trilha os caminhos por entre as ruínas.
Site Yahoo Brasil.


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