Ciberespionagem com ‘jeitinho brasileiro’
Especialistas descobrem primeiro grupo de criminosos cibernéticos criado no país.
TENERIFE, Espanha - O Brasil é conhecido no mundo por sua atividade hacker, sobretudo na área de malwares bancários, mas a descoberta de um novo grupo de criminosos cibernéticos eleva as ameaças nacionais a um novo patamar.
Batizado como Poseidon, é o primeiro grupo conhecido de ciberespionagem criado no país, e chama a atenção de especialistas por ter características que fogem do padrão, que incorporam o chamado jeitinho brasileiro.
— Temos 100% de certeza que o programador é brasileiro e a sede do grupo é no país — afirma Dmitry Bestuzhev, diretor da equipe global de pesquisa e análise da Kaspersky Lab na América Latina. — A programação usa diferentes linguagens, é muito híbrida. Tem o “jeitinho brasileiro”.
A análise indica que o Poseidon está em atividade desde 2005 e afetou ao menos 35 companhias em EUA, França, Índia, Rússia, Emirados Árabes, Cazaquistão e Brasil.
O anúncio foi feito durante o Security Analyst Summit 2016, evento de segurança da informação promovido pela Kaspersky. O conjunto de ferramentas do grupo é direcionado ao Windows em inglês ou português do Brasil.
Foram encontradas linhas de código em português, um sinal de que a equipe de programação é formada por brasileiros nativos.
— Percebemos a presença de muitos verbos no gerúndio — diz Fabio Assolini, analista da Kaspersky no Brasil. — Encontramos diferenças com o português de Portugal, como o uso dos termos mouse e tela. Lá eles falam rato e ecrã.
CHANTAGEM COM AS VÍTIMAS
Entre as vítimas já identificadas estão companhias do setor financeiro, de telecomunicações, energia, mídia e órgãos do governo.
O grupo é especializado no roubo de informações corporativas, que são, primeiramente, oferecidas à própria vítima como forma de chantagem.
Caso a negociação não avance, o material coletado é ofertado a concorrentes e investidores na forma de análise de mercado.
— Eles invadem os sistemas de multinacionais e, quando estão com os dados, batem na porta das empresas, vestindo ternos, e dizem: sabemos que vocês têm problemas de segurança — explica Juan Andrés Guerrero, analista de segurança da Kaspersky.
O Poseidon começa a atuar com a infecção do sistema corporativo com e-mails direcionados a funcionários do setor de recursos humanos.
Os criminosos descobrem que tipo de profissional a empresa procura e enviam currículos falsos com arquivos .DOC que, ao serem abertos, injetam o código malicioso no sistema.
Após a infecção, o malware apaga os rastros da invasão e ativa ferramentas especializadas na coleta automática de grande quantidade de dados, como credenciais e políticas de gerenciamento de redes.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi a localização dos servidores onde os centros de comando e controle estão instalados:
— Os servidores estavam no céu, nos principais operadores de redes sem fio; no mar, pois afetavam provedores que fornecem internet apenas para navios, e na terra, como o padrão. Por isso demos o nome de Poseidon — diz Bestuzhev.
Na mitologia grega, Poseidon é o deus do mar.
Foto: Frank Peters
Jornal O GLOBO online.

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