Desemprego agora também afeta o setor de serviços.
Segmento era um dos únicos em que as demissões ainda eram
exceção, mas cortes começaram no fim de 2015.
A partir de julho do ano passado, ritmo de queda se
intensificou, até atingir uma perda de 6,4% em novembro, segundo o mesmo tipo
de comparação, aponta o IBGE.
Um dos últimos pilares de resistência à crise, o setor de
serviços administrativos e complementares começou a demitir no fim do ano
passado diante da escolha de empresas em reduzir a demanda por esse tipo de
atividade.
Sem escolha, o segmento - que inclui tarefas de limpeza,
vigilância e telemarketing - está mandando para a fila do desemprego pessoas
com menor qualificação e remuneração, que podem encontrar dificuldades para se
recolocar no mercado de trabalho.
Além disso, como o setor é intensivo em mão de obra, o sinal de
que a crise bateu à porta pode ainda reforçar o círculo vicioso já visto nos
últimos meses. Quando essas pessoas são demitidas, elas passam a consumir e
gastar menos, deprimindo ainda mais a atividade econômica e gerando mais
desemprego.
Luis Carlos Avelino, de 40 anos, trabalhou por uma década no
setor de vigilância. Após três anos de atuação como segurança em uma empresa do
ramo de hotelaria em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, foi dispensado em
outubro passado por "redução de custos". "Depois de mim,
mandaram outros embora.
Sobrevivi porque recebi o seguro-desemprego e fiquei fazendo
bicos. Agora, o seguro vai acabar. Estou entregando currículos."
Morador da Zona Leste de São Paulo, Avelino se mostra
esperançoso em encontrar trabalho na área com facilidade. Mas as empresas desse
segmento não têm mostrado disponibilidade em contratar.
Em janeiro, a Sondagem de Serviços da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) mostrou que 27% das empresas de serviços administrativos e complementares
pretendem demitir nos próximos três meses. Além disso, 34,8% reclamam de
demanda insuficiente.
"Os serviços como um todo foram os últimos a entrar em
trajetória de declínio. Houve desaceleração quando a perda de renda começou a
ser mais acentuada, e esse processo ocorreu mais rapidamente do que em outros
setores justamente por causa dessa demora", afirma o economista Silvio
Sales, consultor da FGV e coordenador da sondagem.
"O problema é para o mercado de trabalho como um todo.
Assim como o crescimento do setor de serviços se deu com admissão de pessoas, a
desaceleração agora é demitindo trabalhadores", acrescenta. "Estamos
longe de uma recuperação no setor."
A auxiliar de serviços gerais Ednéa da Silva de Oliveira, de 33
anos, passou um ano e quatro meses desempregada e entregou dezenas de
currículos. Na semana passada, finalmente foi selecionada para uma vaga na Zona
Sul do Rio.
Antes disso, a moradora de Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, aceitou bicos de vendedora por 30 reais, improvisou como manicure e
pediu dinheiro emprestado à mãe para pagar o transporte até os locais de
entrevista. "Quando me ligaram para dar a notícia, chorei e tudo",
diz.
Desempenho
O setor de serviços administrativos e complementares (que inclui
atividades de limpeza, vigilância, recepção, telemarketing, cobrança e auxiliar
administrativa) mergulhou em uma trajetória negativa em julho do ano passado,
quando o volume encolheu 2,8% em relação a igual mês de 2014.
Desde então, o ritmo de queda só se intensificou, até atingir
uma perda de 6,4% em novembro, segundo o mesmo tipo de comparação, de acordo
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como essas funções são consideradas mais "essenciais",
as empresas relutaram em demitir. Mas a falta de perspectiva de recuperação na
economia acabou falando mais alto.
No trimestre até outubro de 2015, 429.000 pessoas que trabalham
nos setores de informação, comunicação, serviços administrativos e
complementares foram dispensadas em relação ao mesmo período de 2014, segundo
os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
Contínua.
A pesquisa sobre o mercado de trabalho do IBGE engloba mais
segmentos do que apenas os administrativos e complementares, mas dá uma boa
pista do movimento que também é percebido por agências de emprego. Na
Vagas.com, as candidaturas para o posto de auxiliar/operacional avançaram 25%
em 2015 ante o ano anterior. No entanto, a oferta de vagas para essas funções cresceu
apenas 6% no período.
"A oferta de vagas foi desacelerando durante o ano. O
primeiro trimestre de 2015 teve um bom volume de vagas divulgadas, mas no
último trimestre houve uma queda bem forte", diz Rafael Urbano,
especialista em Inteligência de Negócios da Vagas.com.
Em janeiro deste ano, o cenário piorou ainda mais. A procura
aumentou 37% em relação ao mesmo mês de 2015, mas a oferta de vagas nesse
segmento despencou 50%. "É um indicativo de que pode continuar nesse mesmo
patamar (de piora) nos próximos meses", avalia Urbano.
O aperto no número de vagas deve preocupar quem está
desempregado, já que as empresas vão tentar aproveitar esse momento para
melhorar a qualidade. "Quem ficar parado, sem buscar alguma qualificação,
pode ficar de fora", diz o especialista da Vagas.com.
No Rio de Janeiro, a empresa de recursos humanos Simetria também
percebeu um encolhimento nas vagas disponíveis no segmento de serviços
administrativos e complementares. "Se uma empresa tem duas portarias,
acaba cortando uma.
Ou então diminui o serviço de limpeza. Então, elas dispensam e
não veem necessidade de contratar porque o mercado continua parado",
afirma a diretora Neusa Nascimento.
(Com Estadão
Conteúdo)
Revista VEJA
online. (Aline Lata/VEJA).
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