Terapia: quando o divã se torna necessário
Reconhecer a necessidade de terapia pode ser difícil no começo. Porém, pode ser a solução para momentos mais difíceis.
Em 2013, Susan e o marido, Scott, estavam em um chalé afastado, perto de Victoria Beach, em Manitoba, quando o impensável aconteceu: ao entrar no quarto, a filha de Susan encontrou Scott caído no chão, inconsciente depois de sofrer um violento ataque cardíaco.
Enquanto a filha ligava para a Emergência, Susan entrou em ação. “Tentei salvá-lo com RCP”, diz ela, mas não adiantou. Quando os primeiros socorristas chegaram, ele já estava morto.
O choque da viuvez repentina aos 61 anos já era difícil o suficiente, mas a dor de Susan foi agravada pela sensação de que se tivesse feito algo um pouco diferente – uma RCP melhor ou se não tivesse pedido a Scott que levantasse pedras pesadas mais cedo naquele dia – ele ainda poderia estar vivo.
Eu não conseguia me libertar do trauma”, conta ela. “Estava aprisionada.”
Finalmente, um ano depois, seu médico de família a encaminhou para uma terapeuta especializada em luto. Um relacionamento que a ajudou a começar a se curar.
Para muita gente – não apenas para quem sofreu uma perda – a psicoterapia pode ser um porto seguro durante um período difícil, ou uma parte inestimável do tratamento de um problema de saúde mental em andamento.
E como o estigma associado ao fato de se tratar com um psiquiatra está desaparecendo nesta era de autocuidado e bem-estar, pessoas que nunca consideraram a possibilidade de fazer terapia antes para resolver problemas antigos ou novos podem estar curiosas o bastante para tomar a iniciativa. A pergunta é: por onde começar?
Encontrando um terapeuta
Ao buscar apoio de saúde mental, algumas pessoas podem obter de seu médico a indicação de um terapeuta. Quem está atravessando o luto pode procurar clínicas e organizações de apoio a pessoas enlutadas.
Outras podem perguntar a parentes e amigos e encontrar um profissional através do boca a boca.
A primeira coisa que os pacientes em potencial devem fazer, diz Pat Rayman, psicoterapeuta registrada de Toronto, é verificar as credenciais. 
Depois disso, é importante analisar a área de especialização do terapeuta, que muitos informam em seus sites.
Encontrar alguém que possa ajudá-lo com seu problema específico – seja relacionado a morte e luto, trauma e transtorno de estresse pós-traumático, envelhecimento, conflitos familiares, identidade sexual ou dependência – também é um bom começo.
Abordagens diferentes
Os terapeutas usam uma variedade de técnicas baseadas em teorias diversas. A psicanálise, às vezes chamada de “cura pela fala”, foi criada por Sigmund Freud no século 19 e até hoje a maioria dos terapeutas ainda incentiva os pacientes a falarem abertamente sobre o que lhes vai na mente.
No entanto, alguns pacientes podem preferir um tratamento mais curto, não tão focado em escavar o passado e mais em mudar pensamentos nocivos e diálogo interno.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma opção popular nesse sentido.
A Dra. Jo Hoffman, professora assistente clínica de psiquiatria da Universidade da Colúmbia Britânica e psicanalista, sugere ter em mente os tipos de recursos – financeiros, emocionais e de tempo – disponíveis.
“Se você vai fazer um trabalho de mergulho profundo, precisa ter estabilidade na sua vida normal e cotidiana”, diz ela.
Alguém em perigo imediato – por exemplo, vivendo um relacionamento abusivo – pode, em vez disso, necessitar de apoio direcionado a crises no curto prazo.
Qualquer que seja a sua situação, procure ser realista sobre a frequência que você pode manter e quanto pode pagar.
Primeiras impressões
Durante a consulta inicial, o terapeuta vai procurar entender o que o levou a procurá-lo, e você deve descobrir como ele trabalha, fazendo perguntas sobre qualquer dúvida que tenha sobre a terapia.
Vocês dois podem conversar sobre metas de tratamento e também sobre assuntos como frequência de consultas, preço e políticas de cancelamento.
O mais importante, porém, é que essa primeira consulta – que não é um compromisso – é uma oportunidade para vocês avaliarem a compatibilidade.
Como disse certa vez o renomado terapeuta e escritor Irvin Yalom: “É o relacionamento que cura.”
De fato, estudos mostram que, em todos os tipos de terapia, um bom relacionamento entre paciente e terapeuta é essencial para a eficácia do tratamento.
Para descobrir se é um bom casamento, Jo sugere ser tão direto quanto possível sobre sua vida e seus problemas. “Mas também seja franco e honesto consigo mesmo sobre como se sente em relação ao terapeuta”, diz ela.
A Dra. Ingrid Söchting, professora associada clínica do departamento de psiquiatria da Universidade da Colúmbia Britânica e terapeuta de TCC, diz que incentiva as pessoas a pesquisarem.
“Alguns pacientes acham desagradável quando um terapeuta expressa abertamente seus sentimentos, e então podem preferir – pelo menos inicialmente – mais distância e espaço pessoal”, explica ela.
“Por outro lado, alguns terapeutas demonstram uma surpreendente falta de calor e empatia.”
Ingrid sugere comparecer a duas ou três sessões e, caso tenha muitos sentimentos negativos, apenas agradeça e continue procurando.
Um dever de casa útil
Depois de várias sessões com seu terapeuta, você se verá observando seus sentimentos e comportamentos sob uma nova luz.
Para alguns pacientes, comparecer às sessões semana após semana será o bastante para desencadear um processo de cura, mas existem maneiras de aprofundar o trabalho.
Pat sugere que pode ser útil manter um diário.
O diário também pode ser bom para descrever sonhos, já que as ansiedades bloqueadas pela mente consciente durante o dia podem emergir à noite – e são bons assuntos para começar a discussão na terapia.
Os terapeutas comportamentais podem dar aos pacientes fichas para preencher, as quais ajudam a reformular pensamentos obsessivos, depressivos ou ansiosos.
Além disso, podem pedir aos pacientes que registrem os resultados dos exercícios destinados a desafiar os medos, ou a acompanhar como seus comportamentos estão ligados ao estado de espírito.
Um comedor compulsivo, por exemplo, pode registrar o que come e anotar seus sentimentos e pensamentos antes e depois.
Mas não importa o tipo de terapia escolhido, você pode ajudar no processo prestando atenção e compartilhando os sentimentos que afloram durante as sessões, incluindo aqueles em relação ao terapeuta.
Para alguém que não está acostumado a ser assertivo, contrariar um terapeuta pode gerar a sensação de estar fora de sua zona de conforto – que é exatamente o objetivo.
O consultório de terapia é um lugar útil para testar novas formas de estar em um relacionamento, que podem ser transferidas para o mundo exterior.
Resultados impressionantes
A qualquer momento, mudar de terapeuta é uma opção. Um relacionamento terapêutico bem-sucedido pode continuar enquanto o paciente desejar – algumas pessoas podem decidir se consultar com o mesmo terapeuta por muitos anos, enquanto outras podem preferir, depois de um tempo, tentar alguém com qualidades diferentes.
Na terapia, Susan se viu capaz de falar sobre coisas que nunca havia dito a ninguém antes – não apenas sobre o trauma da morte do marido, mas sobre acontecimentos do passado mais distante.
Tendo passado por vários episódios depressão em toda a sua vida adulta, ela atribui sua resiliência emocional recém-descoberta ao trabalho terapêutico que fez.
“Quando você encontra forças para falar sobre questões profundamente arraigadas, isso é uma vitória muito significativa”, diz ela. “A terapia foi realmente uma cura para mim.”
Um terapeuta, mas de que tipo?
– O psicoterapeuta está habilitado para o tratamento de distúrbios emocionais ou comportamentais através do diálogo, mas não pode prescrever medicação. Psicoterapeutas também podem ser psiquiatras, psicólogos ou assistentes sociais.
– O psicanalista normalmente atende os pacientes várias vezes por semana. Sua formação é semelhante à do psicoterapeuta, mas geralmente no nível de pós-doutorado.
– O psiquiatra é um médico especializado em diagnosticar e tratar doenças mentais, e pode utilizar a terapia da fala se desejar. Pode prescrever medicamentos como antidepressivos ou antipsicóticos, e aceita seguros saúde do governo.
– O psicólogo pode diagnosticar e tratar problemas de saúde mental, mas não pode prescrever medicação.
Seus honorários, que tendem a ser mais altos que os dos psicoterapeutas, costumam ser parcialmente cobertos por seguros saúde privados.
Por Lisan Jutran.
Imagem: shironosov/Istock.
Editado por: Julia Monsores.
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