Procrastinar na quarentena: a tendência a deixar tudo para depois 
Atire a primeira pedra quem nunca deixou para depois uma tarefa essencial para fazer outra sem importância, como navegar sem rumo nas redes sociais.
O nome disso é procrastinação, é muito comum e tem ficado mais evidente na quarentena. “Procrastinar nada mais é do que adiar coisas que você precisa fazer.
Pode ser um simples telefonema”, explica Daniel Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Ana Carolina Uchoa, 30, que trabalha na área administrativa de obras, diz que se atrapalhou com a nova rotina, adiou compromissos e se enrolou para entregar as tarefas no prazo.
Ela lida com auditoria e, entre suas funções, está cobrar a documentação dos fornecedores para o relatório mensal. “Sabia que tinha de fazer, mas pensava: ‘daqui a pouco eu faço’ e me levantava para preparar um bolo ou assistir à novela da tarde.
Quando me dava conta, estava em cima do prazo e tinha de correr.”
Para Ana Carolina, o fato de a rotina não ser mais a mesma afeta sua organização e a faz procrastinar mais vezes. “Eu já tinha uma tendência de deixar tudo para depois, mas, estando em casa, é muito difícil conseguir focar 100% o trabalho. Acabo procrastinando por sobrevivência”, brinca.

Gabriela Dolce, de 27 anos, também sente diferenças no dia a dia que a fazem perder o foco. Ela afirma que sempre foi organizada para conseguir realizar tudo. Além de trabalhar, cursa uma segunda faculdade à noite. “Minha rotina era absolutamente regrada, e agora acabo perdendo o foco e adiando coisas.
Houve dias em que percebi que não estava conseguindo me concentrar e tive de renegociar prazos com minha gerente.”
“Houve dias em que não conseguia me concentrar e precisei renegociar prazos.”, diz Gabriela Dolce, gerenciadora de conteúdo
De acordo com Barros, existe uma falsa ideia de que a procrastinação tem relação apenas com a administração do tempo. “Procrastinar também está ligado à dificuldade de gerenciamento das nossas emoções.
Neste momento, estamos mais tensos, mais desgastados, mais estressados, o que afeta o emocional e a motivação de fazer as coisas necessárias”, explica o psiquiatra.
É o que acontece com a artista gráfica Ana Dora, de 70 anos. Ela, que tem um ateliê de gravuras na sala de casa, diz que costumava manter a mesa de trabalho sempre em ordem.
Sem encomendas, seu rendimento quase zerou e a área virou uma bagunça. Ana afirma que, apesar de não sair de casa, não consegue estímulo para organizar a mesa.
“Estou mais ansiosa e procuro outras coisas para fazer em vez de arrumar o ateliê para poder trabalhar. Limpei a geladeira, lavei o rejunte dos azulejos. A mesa de trabalho, que é o mais importante, sempre deixo para depois.”
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 3 de junho de 2020, edição nº 2689.
Photos Getty Images.
Por: Fernanda Bassette.
Portal MSN.
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