Quando a
terapia se torna necessária.
Setembro
Amarelo.
Reconhecer a necessidade de acompanhamento psicológico pode ser
difícil no começo. Porém, pode ser a solução para momentos mais difíceis.
A existência de um
problema é o primeiro passo para resolvê-lo. E quando o assunto é a depressão,
não é diferente.
Em 2013, Susan e o marido, Scott, estavam em um chalé
afastado, perto de Victoria Beach, em Manitoba, quando o impensável aconteceu:
ao entrar no quarto, a filha de Susan encontrou Scott caído no chão,
inconsciente depois de sofrer um violento ataque cardíaco.
Enquanto a filha ligava para a Emergência, Susan entrou em ação.
“Tentei salvá-lo com RCP”, diz ela, mas não adiantou. Quando os primeiros
socorristas chegaram, ele já estava morto.
O choque da viuvez repentina aos 61 anos já era difícil o
suficiente, mas a dor de Susan foi agravada pela sensação de que se tivesse
feito algo um pouco diferente – uma RCP melhor ou se não tivesse pedido a Scott
que levantasse pedras pesadas mais cedo naquele dia – ele ainda poderia estar
vivo.
“Eu não
conseguia me libertar do trauma”, conta ela. “Estava aprisionada.”
Finalmente, um ano depois, seu médico de família a encaminhou
para uma terapeuta especializada em luto. Um relacionamento que a ajudou a
começar a se curar.
Para muita gente – não apenas para quem sofreu uma perda – a
psicoterapia pode ser um porto seguro durante um período difícil, ou uma parte
inestimável do tratamento de um problema de saúde mental em andamento.
E como o estigma associado ao fato de se tratar com um
psiquiatra está desaparecendo nesta era de autocuidado e bem-estar, pessoas que
nunca consideraram a possibilidade de fazer terapia antes para resolver
problemas antigos ou novos podem estar curiosas o bastante para tomar a
iniciativa. A pergunta é: por onde começar?
Encontrando um
terapeuta.
Ao buscar apoio de saúde mental, algumas pessoas podem obter de
seu médico a indicação de um terapeuta.
Quem está atravessando o luto pode procurar clínicas e
organizações de apoio a pessoas enlutadas. Outras podem perguntar a parentes e
amigos e encontrar um profissional através do boca a boca.
A primeira coisa que os pacientes em potencial devem fazer, diz
Pat Rayman, psicoterapeuta registrada de Toronto, é verificar as credenciais.
Depois disso, é importante analisar a área de especialização do
terapeuta, que muitos informam em seus sites. Encontrar alguém que possa
ajudá-lo com seu problema específico – seja relacionado a morte e luto, trauma
e transtorno de estresse pós-traumático, envelhecimento, conflitos familiares,
identidade sexual ou dependência – também é um bom começo.
Abordagens
diferentes:
Os terapeutas usam uma variedade de técnicas baseadas em teorias
diversas. A psicanálise, às vezes chamada de “cura pela fala”,
foi criada por Sigmund Freud no século 19 e até hoje a maioria
dos terapeutas ainda incentiva os pacientes a falarem abertamente sobre o que
lhes vai na mente.
No entanto, alguns pacientes podem preferir um tratamento mais
curto, não tão focado em escavar o passado e mais em mudar pensamentos nocivos
e diálogo interno. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma opção popular
nesse sentido.
A Dra. Jo Hoffman, professora assistente clínica de psiquiatria
da Universidade da Colúmbia Britânica e psicanalista, sugere ter em mente os
tipos de recursos – financeiros, emocionais e de tempo – disponíveis.
“Se você vai fazer um trabalho de mergulho profundo, precisa ter
estabilidade na sua vida normal e cotidiana”, diz ela. Alguém em perigo
imediato – por exemplo, vivendo um relacionamento abusivo – pode, em vez disso,
necessitar de apoio direcionado a crises no curto prazo.
Qualquer que seja a sua situação, procure ser realista sobre a
frequência que você pode manter e quanto pode pagar.
Primeiras
impressões:
Durante a consulta inicial, o terapeuta vai procurar entender o
que o levou a procurá-lo, e você deve descobrir como ele trabalha, fazendo
perguntas sobre qualquer dúvida que tenha sobre a terapia.
Vocês dois podem conversar sobre metas de tratamento e também
sobre assuntos como frequência de consultas, preço e políticas de cancelamento.
O mais importante, porém, é que essa primeira consulta – que não é um
compromisso – é uma oportunidade para vocês avaliarem a compatibilidade.
Como disse certa vez o renomado terapeuta e escritor Irvin
Yalom: “É o relacionamento que cura.” De fato, estudos mostram que, em todos os
tipos de terapia, um bom relacionamento entre paciente e terapeuta é essencial
para a eficácia do tratamento.
Para descobrir se é um bom casamento, Jo sugere ser tão direto
quanto possível sobre sua vida e seus problemas. “Mas também seja franco e
honesto consigo mesmo sobre como se sente em relação ao terapeuta”, diz ela.
A Dra. Ingrid Söchting, professora associada clínica do
departamento de psiquiatria da Universidade da Colúmbia Britânica e terapeuta
de TCC, diz que incentiva as pessoas a pesquisarem.
“Alguns pacientes acham desagradável quando um terapeuta expressa
abertamente seus sentimentos, e então podem preferir – pelo menos inicialmente
– mais distância e espaço pessoal”, explica ela. “Por outro lado, alguns
terapeutas demonstram uma surpreendente falta de calor e empatia.”
Ingrid sugere comparecer a duas ou três sessões e, caso tenha
muitos sentimentos negativos, apenas agradeça e continue procurando.
Um dever de
casa útil.
Depois de várias sessões com seu terapeuta, você se verá
observando seus sentimentos e comportamentos sob uma nova luz. Para alguns
pacientes, comparecer às sessões semana após semana será o bastante para
desencadear um processo de cura, mas existem maneiras de aprofundar o trabalho.
Pat sugere que pode ser útil manter um diário. O diário também
pode ser bom para descrever sonhos, já que as ansiedades bloqueadas pela mente
consciente durante o dia podem emergir à noite – e são bons assuntos para
começar a discussão na terapia.
Os terapeutas comportamentais podem dar aos pacientes fichas
para preencher, as quais ajudam a reformular pensamentos obsessivos,
depressivos ou ansiosos.
Além disso, podem pedir aos pacientes que registrem os
resultados dos exercícios destinados a desafiar os medos, ou a acompanhar como
seus comportamentos estão ligados ao estado de espírito. Um comedor compulsivo,
por exemplo, pode registrar o que come e anotar seus sentimentos e pensamentos
antes e depois.
Mas não importa o tipo de terapia escolhido, você pode ajudar no
processo prestando atenção e compartilhando os sentimentos que afloram durante
as sessões, incluindo aqueles em relação ao terapeuta.
Para alguém que não está acostumado a ser assertivo, contrariar
um terapeuta pode gerar a sensação de estar fora de sua zona de conforto – que
é exatamente o objetivo.
O consultório de terapia é um lugar útil para testar novas
formas de estar em um relacionamento, que podem ser transferidas para o mundo
exterior.
Reconhecer a necessidade de acompanhamento psicológico pode ser
difícil no começo. Porém, pode ser a solução para momentos mais difíceis.
Resultados
impressionantes:
A qualquer momento, mudar de terapeuta é uma opção. Um
relacionamento terapêutico bem-sucedido pode continuar enquanto o paciente
desejar – algumas pessoas podem decidir se consultar com o mesmo terapeuta por muitos
anos, enquanto outras podem preferir, depois de um tempo, tentar alguém com
qualidades diferentes.
Na terapia, Susan se viu capaz de falar sobre coisas que nunca
havia dito a ninguém antes – não apenas sobre o trauma da morte do marido, mas
sobre acontecimentos do passado mais distante.
Tendo passado por vários episódios depressão em toda a sua vida
adulta, ela atribui sua resiliência emocional recém-descoberta ao trabalho
terapêutico que fez.
“Quando você encontra forças para falar sobre questões profundamente
arraigadas, isso é uma vitória muito significativa”, diz ela. “A terapia foi
realmente uma cura para mim.”
Um terapeuta,
mas de que tipo?
O psicoterapeuta está habilitado para o tratamento de distúrbios
emocionais ou comportamentais através do diálogo, mas não pode prescrever
medicação. Psicoterapeutas também podem ser psiquiatras, psicólogos ou
assistentes sociais.
O psicanalista normalmente atende os pacientes várias vezes por
semana. Sua formação é semelhante à do psicoterapeuta, mas geralmente no nível
de pós-doutorado.
O psiquiatra é um médico especializado em diagnosticar e tratar
doenças mentais, e pode utilizar a terapia da fala se desejar. Pode prescrever
medicamentos como antidepressivos ou antipsicóticos, e aceita seguros saúde do
governo.
O psicólogo pode diagnosticar e tratar problemas de saúde
mental, mas não pode prescrever medicação. Seus honorários, que tendem a ser
mais altos que os dos psicoterapeutas, costumam ser parcialmente cobertos por
seguros saúde privados.
Imagens:
/Istock.
Por: Julia
Monsores.
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Revista SELEÇÕES.
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