Comércio global sem dólar é possível?
Entenda a discussão dos Brics.
Debate sobre o fim da dolarização de acordos comerciais dentro do Brics
volta em cúpula na Rússia, mas eficiência do modelo para cadeias consolidadas, como a petroleira, é um tiro no escuro.
O Presidente Lula falou aos outros líderes do Brics na quarta-feira
(23). Entre os temas, desdolarização, urgências climáticas e taxação para os
bilionários.
O encontro dos presidentes dos países que integram
o Brics — bloco de nações emergentes como Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul — foi recheado de alfinetadas aos países desenvolvidos,
críticas a multinacionais e à distribuição mundial de responsabilidades pelos
desastres climáticos.
Tudo isso era esperado. Um assunto, no entanto,
voltou a ganhar força na cúpula, a desdolarização do comércio feito entre os
países membros do bloco.
O
tema, puxado pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, já vem
sendo debatido de forma discreta pelos membros, em especial China e Rússia, que
hoje enfrentam tensões ou bloqueios comerciais com os Estados Unidos. Agora,
com o reforço do Brasil, o tópico, que ainda divide opiniões de especialistas,
começa a ganhar musculatura e gera dúvidas se setores como o petroleiro vão se
beneficiar ou dar um tiro no pé caso adotem.
+Em cúpula do Brics, Lula defende
avanço de mecanismos de pagamento sem dólar
A
negociação direta entre os países em outras bases de troca que não o dólar é
vista por alguns especialistas como uma forma de garantir que os países
mantenham suas reservas dolarizadas e firmem negócios usando como base suas
moedas correntes.
“Não
podemos dizer, de forma alguma, que isso substituiria o dólar. Não se trata de
uma mera alteração, mas da construção de uma alternativa em um bloco
comercial”, afirmou à DINHEIRO Andrey Mikhailishin, chefe do grupo de
trabalho de serviços empresariais do Conselho Empresarial dos Brics.
Presidente da China Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, no evento
do Brics dia 24 de outubro.
A
fala veio alinhada com o discurso de Lula no evento que aconteceu em Kazan, na
Rússia. Por meio de uma videoconferência, o presidente disse que é “preciso
trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema
financeiro internacional.
Essa
discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas
não pode ser mais adiada”.
O
primeiro passo, segundo o líder brasileiro, é colocar na linha de frente os
bancos nacionais de desenvolvimento, entre eles o Banco dos Brics, presidido
pela ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
“Eles
irão estabelecer linhas de crédito em moedas locais, que reduzirão os custos de
transação de pequenas e médias empresas”.
Segundo
Lula, o atual fluxo financeiro internacional funciona como um rio que leva às
nações desenvolvidas. “As economias emergentes e em desenvolvimento financiam o
mundo desenvolvido”, disse.
No comando do Banco dos Brics, Dilma Rousseff vai discutir como firmar
negócios sem dólar.
Caminhos para o petróleo.
Dentro
desta possibilidade, alguns setores podem encontrar novos caminhos (sejam eles
bons ou ruins), como é o caso do petroleiro.
Hoje
a China é o maior importador de óleo brasileiro, respondendo por cerca de 46,3%
em 2023. A participação já ultrapassou 60%,
mas caiu com a maior demanda mundial diante da diminuição da oferta russa após
a guerra com a Ucrânia.
Quando
falamos de exportações, 96% das realizadas em 2023 foram em dólar.
Para Mikhailishin uma alternativa na forma de
pagamento abriria o mercado de forma substancial aos países membros do bloco,
além de evitar que grandes disparidades nas divisas provocadas pelo dólar
desfaçam negócios entre as nações.
Mais
cautelosa, a professora Luciana Maia Campos Machado, superintendente
acadêmica e docente da Fipecafi, ressalta que a relevância da Petrobras no
desenvolvimento econômico do Brasil exige cuidados e atenção especial com o setor.
Segundo
ela, entre janeiro e julho, o Brasil exportou US$ 27,8 bilhões de petróleo
bruto e foi um dos motivos do equilíbrio das contas externas. “Em 2010 o setor
representou quase 10% do PIB nacional, além do enorme impacto na balança
comercial”, disse.
Diante
de uma cadeia produtiva tão complexa e importante, é preciso ter calma antes de
dar passos em direção ao desconhecido.
Ainda
que a política da boa vizinhança seja importante para o Brasil na relação com
Rússia e China, dentro do jogo global, se faz imperativa a regra de “seguir o
dinheiro” e, neste momento, o do Brasil aponta para o vizinho na América do
Norte.
Por: Paula
Cristina.
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Kormilitsyna/Photohost).
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Bobylev/Photohost Agency).
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Shemetov) (Crédito:AFP).
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