Por que os celulares explodem, e como evitar que isso aconteça.
Manter o celular conectado à tomada após completar a carga,
derrubá-lo no chão e usar produtos falsificados aumentam chance de
superaquecimento.
Nesta semana, um enfermeiro de Araçatuba, no interior paulista,
relatou nas redes sociais que teve a perna queimada após um celular explodir
dentro do bolso de sua calça.
Esta é ao menos o quinto caso de lesão relacionada a baterias e
carregadores de celular que repercutiu no noticiário desde o início do ano.
Não há motivo, porém, para preocupação generalizada.
Estatisticamente, o número de ocorrências é baixíssimo frente ao total de
smartphones em uso no Brasil, que já supera 220 milhões segundo estudo da FGV
divulgado em abril deste ano.
Ainda assim,
há precauções que diminuem ainda mais a chance de acidentes do tipo.
Explosões são resultado do superaquecimento dos aparelhos,
aponta Luiz Kretly, professor da Unicamp especializado em microeletrônica. Em
geral, baterias de íons-lítio são preparadas para aguentar temperaturas de até
60ºC.
O calor pode gerar curto-circuito entre os polos positivo e
negativo da bateria, dando início a uma reação em cadeia que leva os
componentes inflamáveis da bateria à combustão.
“Se o celular estiver com a carga cheia, mas continuar na
tomada, pode ocorrer uma falha. Mas a maioria dos dispositivos originais têm
proteção contra isso”, diz.
A maior parte dos dispositivos atuais têm uma válvula que
funciona como a da panela de pressão. Se a temperatura aumentar e a pressão
subir demais, o bateria abre para que não ocorra explosão.
Mas a proteção pode falhar, principalmente em produtos
não-certificados ou com defeito de fabricação.
Derrubar o aparelho também pode, eventualmente, fazer com que
ele entre em curto-circuito. “Pode amassar os eletrodos [pólos condutores de
corrente elétrica]“.
Hoje, a taxa de explosões é bem menor do que no começo dos anos
2000, explica Luiz Kretly, professor de microeletrônica da Unicamp: “Agora,
existem compostos que contém o lítio, elemento inflamável quando entra em
contato com o oxigênio, e as tornam mais seguras”.
Carregador
de celular também pode causar acidentes
No Brasil, dois casos relacionados a carga de celular resultaram
na morte de jovens – em junho, um rapaz de 22 anos sofreu uma parada cardíaca
após receber um choque. Segundo o Corpo de Bombeiros de Taubaté, interior de
São Paulo, a carga elétrica ocorreu quando ele tentou usar o celular conectado
ao carregador.
No mesmo mês, um adolescente de 16 anos foi eletrocutado no
Ceará sob as mesmas condições. O rapaz atendeu uma ligação enquanto o celular
estava carregando e não resistiu à descarga elétrica.
Na China, uma criança de 12 anos ficou cega e perdeu um dedo da
mão direita depois que o celular explodiu, de acordo com a mídia local. Na
Índia, uma moça de 18 anos morreu enquanto fazia uma ligação, segundo o jornal
The Sun.
Em todos os
casos, uma coisa em comum: o aparelho estava conectado a uma tomada.
“Nessa situação, provavelmente uma descarga elétrica propagou-se
pela rede elétrica, passou pelo carregador e atingiu a pessoa. O impulso
elétrico de alta intensidade pode dar choque. Isso também ocorre com telefones
fixos”, afirmou o professor da Unicamp.
Segundo ele é difícil prever se o aparelho vai entrar em
curto-circuito, mas o principal indício é a temperatura.
“O superaquecimento é o maior sinal. Deixar o celular no
carregador depois que ele atingiu 100% de carga também não é uma boa prática.
Carregadores de baixa qualidade podem apresentar defeito então, após carregar,
é bom retirá-los da tomada”.
“Parecia que
alguém tinha jogado uma bomba nas minhas costas”.
Em março deste ano, o comerciante Victor Alexandre de Oliveira
sofreu queimaduras de primeiro e segundo graus no glúteos e mãos após seu
celular explodir.
O aparelho estava no bolso traseiro da bermuda.
“Não acreditei que era o celular que tinha explodido. Parecia
que alguém tinha jogado uma bomba nas minhas costas”, disse Oliveira à época
para a VEJA.
A Motorola, fabricante do aparelho, afirmou que procurou o
consumidor: “No entanto, após inúmeras tentativas de contato para retirar o
smartphone, não tivemos retorno e consequentemente, não recebemos o produto.
Sem o aparelho em mãos, é impossível fazer os testes necessários
e coletar informações para entender o ocorrido”.
Victor confirmou que a empresa o procurou “quando o caso estava
na mídia”. De acordo com ele, a Motorola também se propôs a pagar pelo custos
dos remédios.
“Eles mencionaram que me emprestariam outro telefone, mas que eu
tinha que assinar um contrato. Eu fiquei receoso e não quis mais contato”,
disse.
Danos morais
Em 2016, a Samsung foi obrigada a suspender a venda de seu novo
aparelho, o Galaxy Note 7 e paralisar sua produção após ao menos 35 aparelhos
pegarem fogo enquanto carregavam.
Pouco depois, a gigante sul-coreana convocou um recall mundial
para recuperar 2,5 milhões de unidades do produto.
A empresa
também realizou um pedido de desculpas público a seus consumidores.
Recentemente, a empresa foi condenada a pagar uma indenização de
5.000 reais por danos morais a um consumidor do Maranhão. De acordo com a
decisão da 10ª Vara Cível da Comarca de São Luís, o Galaxy S7 começou a aquecer
após uma atualização de sistema e entrou em combustão.
Em nota, a Samsung afirmou que “preza pela segurança de seus
clientes e possui os mais rígidos processos de qualidade em nossos produtos em
conformidade com a legislação brasileira”.
A empresa relata que “o smartphone em questão foi analisado pela
equipe técnica que constatou que a bateria não foi a causa do ocorrido”, e que
cumprirá integralmente o parecer do Tribunal do Maranhão que decidiu pela
indenização ao consumidor.
Foto: (Twitter/Reprodução). Celular
explode em bolso de homem na cidade de Araçatuba
Por Thaís
Augusto.
Revista VEJA
online.