Alimentos têm maior queda de preço em 40 anos.
O feijão recuou mais de 35%, de janeiro a outubro, depois de ter
mais que dobrado de preço no mesmo período do ano passado.
São Paulo – O preço dos alimentos nunca caiu tanto em um ano
como em 2017.
De janeiro a outubro, os itens usados para o preparo de
refeições em casa caíram, em média, 4,57%, segundo o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial da inflação.
O recorde se explica, em boa parte, pelo clima excepcional que
levou o País a colher uma supersafra.
Mas a crise também ajudou a derrubar a inflação da comida: com
menos renda, o consumidor brecou aumentos.
Como a trajetória de queda deve persistir nos dados de novembro
e dezembro, a previsão é de que o preço dos alimentos termine o ano com queda
superior a 5%.
Se as projeções de consultorias se confirmarem, 2017 deve
registrar a maior retração de preços da comida no domicílio desde que o IPCA
começou a ser apurado em 1980, afirma o economista da LCA Consultores, Fabio
Romão.
Até hoje, o único resultado anual negativo nesta categoria
ocorreu em 2006, de – 0,13%, e beirou a estabilidade.
O recuo recorde registrado este ano tem aliviado especialmente o
bolso das famílias de menor renda, que recebem até R$ 4.685 por mês e gastam
22% para preparar a refeição em casa.
É uma fatia do orçamento muito maior do que nas famílias mais
abastadas que empenham na alimentação no domicílio 16%, aponta a economista do
IBGE, Denise Cordovil.
“A queda dos preços dos alimentos é um alívio para os mais
pobres, mas muitos não conseguem perceber porque o desemprego está muito
elevado”, observa o economista Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas, André Braz.
De toda forma, ele pondera que a situação para esses brasileiros
seria pior se a inflação estivesse em níveis mais elevados.
Feijão com arroz
“Muitos itens da alimentação básica do brasileiro caíram neste
ano”, diz Romão. O feijão recuou mais de 35%,
de janeiro a outubro, depois de ter mais que dobrado de preço no mesmo período
do ano passado.
O arroz caiu
quase 10% neste ano.
De janeiro a outubro de 2016 tinha subido 16%, mostra o
levantamento feito pelo economista da LCA.
Mais da metade dos 153 subitens que compõem o grupo alimentação
no domicílio no IPCA tiveram queda de preço nesse período.
As carnes ficaram 4%
mais baratas neste ano até outubro. É um resultado importante comparado às
altas de 9% e 2% registradas nos mesmos meses de 2015 e 2016, respectivamente,
diz Romão.
Na avaliação de economistas, o movimento de queda no preço da
comida, que é o grupo que mais pesa no IPCA, é decisivo. para que o índice de inflação
fique abaixo de 3% este ano
Apesar do alívio provocado pela queda dos preços dos alimentos,
Márcio Milan, economista da Tendências Consultoria Integrada, destaca que os
reajustes dos combustíveis e da energia estão “comendo” uma parte desse ganho.
Ele lembra que, depois da comida, gastos com tarifas são os que
mais pesam no orçamento das famílias de menor renda.
“Se não fosse a alta dos preços administrados, a inflação geral
seria menor ainda”, afirma Milan. Para um IPCA de 3% previsto para este ano
pela consultoria, os preços que não são regulados pelo governo devem subir 1,3%
e as tarifas, 8,1%.
Sem a forte pressão das tarifas, a inflação geral ficaria entre
1,5% e 2%, calcula o economista.
Varejo
A queda nos preços dos alimentos tem reflexos também para o
comércio varejista. Na análise do economista-chefe da Confederação Nacional do
Comércio, Fabio Bentes, o recuo dos alimentos deverá garantir uma retomada mais
vigorosa do comércio como um todo, uma vez que os hiper e supermercados
respondem pela maior fatia anual das vendas do varejo brasileiro.
“De cada R$100 faturados no varejo, R$30 advém dos hiper e
supermercados”, diz Bentes.
Para 2018, a expectativa é de que a queda nos preços dos
alimentos não se repita com a mesma intensidade e as cotações voltem a subir,
mas sem uma disparada.
“Esse céu de brigadeiro não vai durar para sempre”, diz Romão.
Ele observa que os preços de produtos importantes, que recentemente atingiram
valores mínimos históricos, estão aumentando e vão chegar ao consumidor.
Exame.com
Estadão
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