Perceber cedo as mudanças pode ajudar a manter o bem-estar e evitar complicações de doenças graves.
Pode ser difícil
identificar a causa de dor nos pés em idosos.
Tendinopatias, como a tendinite, se tornam mais comuns com a idade porque os
tendões perdem flexibilidade com o passar dos anos.
O tratamento é difícil. “Repouso, gelo e massagens ajudam”,
diz o professor Hylton Menz. “Evite cirurgias, se possível.”
Às vezes, a dor pode ser atribuída a deformidades como os
joanetes. Outras vezes, os problemas nos pés são o primeiro sinal de alguma
doença grave, como diabetesou artrite reumatóide.
“Ocorrem mudanças fisiológicas nos pés [dos idosos], na pele, em
tecidos moles, músculos, nervos e no fluxo sanguíneo.” diz Menz, que ensina
podiatria na Universidade LaTrobe, na Austrália.
“Todos os idosos deveriam ser aconselhados a examinar os pés
regularmente para ver se há alguma mudança na cor, na temperatura, na sensação
ou no formato. Caso percebam alguma alteração, procurem um profissional de
saúde”, diz Menz.
Saiba a seguir aos problemas mais comuns que afetam os pés dos
idosos:
Dor nos pés ligada à artrose
A artrose (ou osteoartrite) nos pés, nos tornozelos ou no dedão
pode causar dor ao andar. Segundo o estudo “Cenário Atual e Tendências da
Osteoartrite no Brasil”, de 2012, quase 10 milhões de brasileiros (cerca de 5%
da população) sofrem com a artrose.
Mas a população idosa de hoje não enfrenta sentada a dor nos pés
ligada à artrose. Os nascidos na década de 1950 foram tão ativos a vida inteira
que buscam tratamento para continuar se movimentando.
O primeiro tratamento recomendado pelos reumatologistas são
anti-inflamatórios não esteroides e calçados especiais. “O tratamento
conservador é feito com calçados ortopédicos sob medida”, diz Biscontini, podiatra
da Universidade de Perugia. “Quando o tratamento conservador não dá certo,
deve-se considerar a intervenção cirúrgica.”
Novos tratamentos para a artrose grave podem ajudar os pacientes
a se manterem ativos. “Não há um procedimento único e certeiro que funcione com
todo mundo”, diz o Dr. Matthew G. Garoufalis, porta-voz da Federação
Internacional de Podiatras, com sede em Paris.
“Em muitos casos, injeções podem aliviar o desconforto e
aumentar a mobilidade. Às vezes é um esteroide, mas agora estamos usando
fatores de crescimento ou membranas amnióticas. O tratamento é utilíssimo para
reduzir a dor e ajudar o retorno à rotina normal.”
Dores relacionadas à idade
Alguns problemas dos pés não podem ser atribuídos a doenças; são
comuns em idosos, como as quedas. “Se o equilíbrio falha, talvez os pés sejam a
causa”, diz Garoufalis.
Dados do Ministério da Saúde apontam que um terço dos idosos
brasileiros sofre uma queda a cada ano.
Estudos mostram que o tai chi pode impedir quedas em idosos
porque melhora o equilíbrio, o andar e a força física.
O uso de meias para acolchoar melhor os pés ou de calçados
ortopédicos, principalmente os que acomodam bem o calcanhar, pode melhorar o
equilíbrio e reduzir a dor.
Os joanetes também causam dor ao andar. São comuns em adultos
mais velhos, sobretudo nas mulheres. Às vezes, calçados especiais ajudam.
Outras vezes, porém, a cirurgia é necessária.
“A cirurgia é ditada pela dor”, diz Garoufalis. “Quando a dor
força o paciente a mudar suas atividades cotidianas, provavelmente está na hora
de consertar. Há mais de cem cirurgias diferentes para joanetes.”
Mas é preciso levar as cirurgias a sério. A dor pode durar de
alguns dias até seis semanas após o procedimento, e a recuperação varia de um
mês e meio a um ano. Há riscos e o problema pode voltar depois da operação.
Outro tipo de dor nos pés pode ser causado pelo excesso de peso,
que provoca mais pressão sobre as articulações. Estudos mostram que os obesos
sentem mais dores nos pés que os magros, sobretudo no calcanhar.
“A acupuntura é apenas um dos tratamentos possíveis”, diz
Garoufalis. “As órteses podem redistribuir melhor o peso na planta do pé, e
existe também a terapia com injeções, inclusive de cortisona.” Mas o alívio
pode ter vida curta, se o excesso de peso não for resolvido.
Dor nos pés ligada à circulação.
Alguns homens notam que, ao envelhecer, os pelos do tornozelo
desaparecem. Embora meias apertadas sejam um fator possível, o mais provável é
que haja um problema circulatório.
“A falta de pelos pode ser sinal de fluxo arterial fraco até o
pé ou fluxo venoso fraco perna acima.”
Quando envelhecemos, o sangue circula com menos eficácia e
limita o fluxo nos pés. Alongar-se, caminhar, levantar os pés sempre que se
sentar e massageá-los, tudo isso ajuda.
“A atividade tem papel fundamental”, garante Garoufalis. “Se não
permanecermos ativos, o músculo da panturrilha não consegue bombear o sangue de
volta ao coração com eficácia.”
Uma doença vascular comum ligada à idade, chamada doença
arterial periférica (DAP), pode limitar o fluxo sanguíneo nas extremidades.
Combinada à neuropatia diabética (dormência decorrente de lesões
neurológicas), ela causa úlceras nos pés, cortes que demoram a sarar e lesões
que não são percebidas e acabam gravemente infeccionadas.
Por sorte, há tratamentos eficazes para a DAP. Alguns melhoram
com mudanças do estilo de vida ou medicamentos. Para outros, é necessária uma
anastomose arterial a fim de criar uma ligação entre artérias ou uma
angioplastia para desobstruí-las.
Recentemente, a terapia com células-tronco também se tornou uma
opção.
Dor nos pés ligada à diabetes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 13,5 milhões de
brasileiros têm a doença. Às vezes, problemas nos pés são o primeiro sintoma.
“As sensações começam a sumir”, diz Garoufalis, “e ocorrem mudanças nas unhas
ou na pele.”
As úlceras nos pés são uma complicação grave do diabetes e
exigem tratamento médico rápido.
Cerca de dois terços das amputações de pés são causados por
úlceras e outros problemas ligados ao diabetes, e ficar atento aos pés ajuda a
evitar a amputação.
“Examine os pés e adote bons procedimentos de higiene. Se não
consegue sozinho, peça ajuda. Procure auxílio médico o mais depressa possível
se surgirem úlceras”, diz a Dra. Kristien Van Acker, da Federação Internacional
do Diabetes.
Tradicionalmente, os médicos tratam as úlceras nos pés
assegurando que não haja infecções nem problemas circulatórios e depois
desbridando (removendo cirurgicamente o tecido morto), fazendo um curativo e
removendo a pressão sobre os pés, às vezes com botas especiais.
Recentemente, pesquisadores italianos descobriram que injetar um
peptídeo específico pode dobrar a velocidade da cura.
“A maioria procura ajuda tarde demais”, lamenta a Dra. Kristien.
“Se o paciente continuar andando com a úlcera, pressionando-a, nem com os
produtos científicos mais novos teremos sucesso.
Podemos reduzir em 80% o número de amputações se os pacientes
forem encaminhados a especialistas em pés no prazo de duas semanas.”
Editado por:
Iana Faini.
Imagem:
Manuel-F-O/iStock.
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